Johnny & June
Lista bem especial apresenta alguns dos maiores nomes de nossa música retratados nos cinemas; de Piaf a Raul, de Jim Morrison a Cazuza
Cinema e música. Há quem diga que esta conjunção consegue, quando bem feita, alegrar a alma de tal forma que um sorriso no rosto fica fixado por horas e horas e nada tem o poder de retirá-lo. É mágica a experiência de, em um único momento, ver e ouvir algo que te toca; que te alegra; que te anima.
E existem algumas maneiras de pensarmos nesta maravilhosa união das artes, sendo uma delas voltada para a própria trilha sonora de um filme, elemento fundamental para sentirmos uma narrativa de modo mais completo. E outra, que trataremos aqui, foca em casos onde o cinema contou historias de grandes ícones da música.
Foi pensando nesta perspectiva que elaboramos mais uma lista especial de filmes.
Vamos lá então:
Johnny e June – Esse filmaço de 2005 retrata a vida de um dos maiores nomes da música americana, o ícone country Johnny Cash, desde sua infância com a morte de seu irmão mais velho, o tempo de serviço militar de Johnny, dentre outros acontecimentos que moldaram a sua vida. Cash, que nasceu em 1932 e morreu em 2003, foi vítima de suas escolhas, das boas e das ruins. O filme foca bastante o seu problema com as drogas e suas várias tentativas de se livrar delas, mas, para o bem do filme, o fio condutor é sua relação de amor e amizade com a também cantora June Carter. Ela o salvou, deu um novo sentido para a sua vida e os dois quando cantavam juntos emocionavam a todos. O filme tem direção do cineasta James Mangold, que tempos depois veio dirigir o insosso Wolverine – Imortal. O ponto forte do filme é, sem dúvida alguma, a dupla que interpreta Johnny e June: Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon fazem aqui os melhores trabalhos de suas respectivas carreiras, rendendo a atriz uma das principais estatuetas do Oscar e ao ator o Globo de Ouro. Witherspoon, entretanto é a maior surpresa, já que ela era conhecida até então como atriz de comédias românticas bobas. Aqui ela dá significado à vida de June Carter.
Raul – O inicio, o fim e o meio – Um dos poucos documentários da lista, ele conta a história do maior cantor de rock da história da Bahia e um dos maiores do país.
“O esmero que o filme teve em estruturar a trajetória do maluco beleza é notório. Desde a sua infância pretensamente rebelde, com o cabelo pompom à la Elvis Presley (primeiro ídolo de Raul), os vícios precoces em cigarros e bebidas, a sua gênese artística com Os Panteras, passando pela ida ao Rio de Janeiro para tentar a vida, o sucesso, as mulheres, os filhos, o flerte com o misticismo de Aleister Crowley, a parceria com Paulo Coelho, as drogas, o exílio político, chegando, infelizmente, no declínio da saúde, o vício em éter e, por fim, a morte. Cada fase da curta vida do baiano roqueiro é trabalhada através de depoimentos da maioria dos envolvidos. Iniciando com imagens de Elvis em Balada Sangrenta (King Creole), filme de 1958 que Raul assistiu inúmeras vezes durante a infância e adolescência, e contextualizando de forma bastante eficaz com os beatniks de Easy Ryder- Sem Destino, o documentário viaja em diversas fases de Raul através de uma óptica por vezes cronológica e por vezes aleatória. Nada mais a ver com a personalidade metamórfica do roqueiro do que isso. Mas, claro, o longa acaba por seguir uma estrutura linear na maior parte do tempo, tendo como padrão o conceito de talking heads. No entanto, isso não chega a incomodar, uma vez que cada personagem em cada depoimento ajuda a compor o mito de modo elucidativo”. Leia texto completo aqui
Piaf – Um Hino ao Amor
Piaf – Um Hino ao Amor – Este filme francês de 2007 conta a comovente história de uma das maiores cantoras da música francesa. Edith Piaf, vivida magistralmente no filme pela atriz Marion Cotillard, viveu em um tempo em que a profissão de cantora (mulher) era constantemente confundida com a de prostituta. E mesmo com uma sociedade conservadora, em um país conservador – a França da década de 1930 – Piaf conseguiu se sobressair, provando ao mundo que seu talento era raro. Piaf era intensa, sensível e frágil, mas também era poderosa e gigante, principalmente quando estava em um palco. O filme, que venceu dois Oscars, merece ser visto, e Piaf, a personagem, merece ser usada como exemplo de como uma mulher pode vencer, mesmo em situações das mais adversas e lutando contra uma sociedade machista. E fecharemos o texto com um trecho de sua canção mais famosa, La Vie en Rose: “Quand il me prend dans ses bras, Il me parle tout bas, Je vois la vie en rose”. Traduzindo: “Quando ele me toma em seus braços, Ele me fala baixinho, Vejo a vida cor-de-rosa”. Uma obra-prima do cinema contemporâneo.
La Bamba – Este filme é provavelmente o mais tocante de todos, não pela narrativa, mas pelo seu contexto histórico. La bamba, que é também uma inesquecível música, narra a história do cantor Ritchie Valens, que teve uma carreira meteórica no final dos anos 50, embalada com outros grandes sucessos como Donna, uma balada romântica composta para uma garota pela qual se apaixonou nos tempos de colégio, Donna Ludwig. A história é basicamente sua, mas o trágico acidente aéreo que ocorreu em 3 de fevereiro de 1959, matou não somente Valens, que tinha apenas 17 anos, mas também outros dois gênios da música na época, o eterno Buddy Holly e The Big Bopper. Este dia, emblemático, ficou conhecido como o dia em que o rock morreu. O filme, que muitos já devem ter visto em alguma sessão da Rede Globo, retrata toda esta fase meteórica, e vai do êxtase inicial, passando pela sua fase apaixonada e chegando ao fim com o trágico acidente e como este tocou de tal maneira a sociedade americana. Um filme que mescla alegria com tristeza, que é embalado por canções inesquecíveis, e que é obrigatório para entendermos um pouco a história da música americana.
Gonzaga – De pai pra filho – Conta a história do nosso querido e inesquecível Luiz Gonzaga, tendo como foco central a sua relação com o filho, Gonzaguinha.
“Uma história de superação, coragem, determinação, garra, valores familiares, do amor de pai para filho, independente dos laços consanguíneos, que inspira a importância do perdão, de fazer as pazes com o passado e sepultá-lo, e mais que tudo, que divulga a coragem de um povo que mesmo diante da seca, da fome, do preconceito, dos sofrimentos, é capaz de transformá-los em poesia, canções que ultrapassam as barreiras da sociedade, dos preconceitos, das grades da acomodação e une todas as raças – como assim foi, é, e sempre será a música de Gonzagão. Uma história de pai para filho, mas que serve para todos os públicos, com certeza, do mais jovem ao mais velho – todos – vão se emocionar. Esse filme nos coloca em contato com as nossas emoções mais profundas e isso é fantástico. Sempre fui fã de Gonzagão e Gonzaguinha, e depois de entrar em “catarse” com esse filme, com certeza, fiquei ainda mais. Afinal de contas, parafraseando nosso querido Gonzaguinha: “a gente quer valer o nosso amor, a gente quer valer nosso suor, a gente quer valer o nosso humor, a gente quer do bom e do melhor…””. Leia texto completo aqui
Gonzaga – De Pai Pra Filho
Pearl Jam Twenty (PJ20) – Documentário sobre uma das maiores bandas dos últimos 30 anos, que dominou os anos 1990 com o surgimento do grunge. O Pearl Jam, junto com o Nirvana, foram seus principais representantes e neste filme podemos conhecer de um modo quase que visceral a história desta icônica banda nascida na cidade de Seattle.
“O longa dirigido por Cameron Crowe, experiente jornalista especializado em rock and roll e cineasta de obras ímpares como Jerry Maguire e Quase Famosos constrói a história de vinte anos da banda formada por Vedder, Jeff Ament, Mike McCready, Stone Gossard e Matt Cameron em um filme enxuto, repleto de imagens emblemáticas, depoimentos marcantes e músicas avassaladoras. Ver os caras comentando sua relação com a fama, fãs, dinheiro, drogas e com o amadurecimento de uma forma tão sem reservas, nos torna ainda mais próximos deles. O filme apresenta cenas raras, depoimentos da época, mesclando-os às imagens atuais da banda. O filme traz o Pearl Jam desde sua gênese, oriundo dos escombros do Mother Love Bone, banda onde Stone e Jeff tocavam e que acabou após o vocalista, Andy Wood, morrer de overdose em 1990. A partir de imagens de palco e depoimentos, é possível conhecer a figura carismática de Wood, cuja vontade de tocar para grandes platéias em estádios e arenas cativa justamente por já sabermos o final daquele jovem sonhador. Chris Cornell, vocalista do Soundgarden, é de uma sutileza definitiva ao dizer que “com Wood, morreu a inocência daquele período em Seattle””. Leia texto completo aqui.
Tim Maia, o filme – Tim Maia é um dos nomes mais emblemáticos da história de nossa música. É quase que um ser mitológico, tamanha são as lendas em torno de sua vida, artística e pessoal. Este filme (que depois virou um especial muito mal feito e tendencioso pela Rede Globo) consegue dar uma pequena dimensão do que foi a sua vida e por isso ele se torna um documento necessário e relevante para entendê-lo.
“ O filme, dirigido pelo cineasta Mauro Lima (de Reis e Ratos e Meu nome não é Johnny), é um interessante documento histórico para qualquer pessoa que deseja conhecer um pouco da vida de Tim, bem como de um momento da história de nossa música. É de uma cumplicidade tamanha acompanhar o nascimento de um gênio e perceber que toda a sua trajetória foi marcada por grandes altos e baixos, e por uma relação bem desequilibrada do cantor com o álcool, sobretudo. Assim, o primeiro sentimento que vem à tona quando o espectador se vê diante do filme é o de cumplicidade, o de acompanhar bem de perto um dos momentos mais ricos da música popular brasileira. Para esta relação ser mais estreita, o roteiro escolheu colocar um narrador durante todo o filme. Este narrador é o grande amigo de Tim Maia, Fábio, que na trama é interpretado pelo galã Cauã Reymond. Esta estrutura narrativa, que no início, e em alguns momentos, até serve para deixar alguns acontecimentos mais claros, vai se desgastando com o passar dos minutos (e são 120 minutos de filme), se tornando não somente desnecessária, como até mesmo atrapalhando a fluidez natural da trama”. Leia o texto completo aqui
Tim Maia – Divulgação
Sid & Nancy – De todos os filmes desta lista, este aqui é certamente o mais subversivo e que retrata a vida mais caótica dentre os mostrados no post. Trata-se basicamente do filme que relata a vida de Sid Vicious e Nancy Spungen. Sid, o polêmico baixista da banda britânica de punk rock Sex Pistols e Nancy, a groupie que fisgou o então punk rock star. O filme, britânico, de 1986, tem um visual sujo, tal como a vida destes dois, que foi regada a escândalos e teve como slogan o mais que famoso “sexo, drogas e rock’n’roll“. Este estilo de vida resultou infelizmente na precoce morte de ambos. O filme é uma pérola do circuito alternativo de cinema e apresentou para muitos cinéfilos o punk rock, nascido na Inglaterra na década de 1970. No centro deste novo gênero está o grupo Sex Pistols, e seu baixista, Sid (interpretado pelo ator Gary Oldman), que sintetiza bem toda essa fúria punk. Sid é problemático, de temperamento indiferente e revoltado, e por conta disto desperta o interesse do lendário empresário Malcolm McLaren. Tudo caminha bem, até Sid conhecer a excêntrica Nancy Spungen (Chloe Webb), com quem começa a dividir momentos loucos, com muitas drogas e diversão. Uma relação de altos e baixos, com histórico de sexo, violência e escândalos, que afastou Sid da banda e de certa forma, de sua própria vida. Uma experiência única, um filme desconcertante. Subversivo, sujo, mas relevante.
Somos tão Jovens – Tal como o verso cantado e gritado pelo ícone de uma geração, Somos tão Jovens, o filme, também ecoa pelo mundo como um catártico hino de uma juventude. O filme, que traz recortes da vida do poeta, cantor, compositor e tudo o mais Renato Russo, mostra momentos importantes de sua vida, até chegar ao histórico momento onde ele se junta aos colegas e forma a Legião Urbana, uma verdadeira lenda de nossa música. Uma biografia rica, cheia de altos e baixos, de alegrias e tristezas, de surpresas e decepções, uma biografia necessária do ponto de vista histórico.
“Se propõe a contar a história do ídolo do rock Renato Russo. Ou, pelo menos, parte desta história de 36 anos que Renato viveu. E, acredito, esteja, nessa proposta, nesse recorte da vida do Renato, do fato de ele ter sido, na adolescência, portador da epifisiólise – uma doença óssea -, da saída do ensino médio, passando por sua experiência como professor de Inglês, ao surgimento do Aborto Elétrico (primeira banda do Renato) até a primeira apresentação da Legião Urbana no Rio de Janeiro, no Circo Voador, na década de 80, a acertada e coerente escolha do roteirista Marcos Bernstein (co-autor de CENTRAL DO BRASIL) e do diretor Fontoura. Quem for ao cinema esperando a história do ídolo do rock, que se drogava, que morreu jovem, de AIDS, sairá do cinema deveras decepcionado pois, Somos Tão Jovens, graças a Deus, fugiu deste lugar comum. Sempre fui fã do Renato Russo. Suas músicas marcaram muito o inicio dos meus vinte anos, lá na década de 90 e, de certa e significativa forma, marcam-me até hoje. Talvez, por isso, eu tenha saído do cinema satisfeito com o que eu assisti durante um pouco mais de uma hora e meia de filme”. Leia texto completo aqui
Outros filmes relevantes
The Doors, o filme – Petardo cinematográfico dirigido pelo cineasta Oliver Stone e que conta a saga de um dos mais emblemáticos artistas da história do rock: Jim Morrison, interpretado genialmente pelo ator Val Kilmer. História excitante, filme excitante. Quem desejar conhecer um pouco da louca e incrível vida de um dos gênios do rock, The Doors então é um prato cheio.
The Doors, o filme
Ray – Filme de 2004 baseado na vida do famoso cantor de R&B/soul Ray Charles, tem direção do cineasta Taylor Hackford e é estrelado por Jamie Foxx, que vence o Oscar de ator principal por este papel. A trama mostra as principais fases que mudaram a vida de Ray Charles, como quando um problema de glaucoma o deixou cego aos 7 anos de idade, suas várias amantes, seu filho fora do casamento, o envolvimento com drogas e a composição de suas canções mais conhecidas. O filme é dos mais competentes e bem produzidos e se apresenta como uma das meias bem feitas biografias do gênero.
Backbeat – Este filme é dos mais curiosos, pois vamos falar dos Beatles, mas não dos quatro que conhecemos tão bem, mas sim do quinto beatle, que poderia ser hoje um ícone da música, mas decidiu largar a banda para se dedicar a outros projetos. A história tem foco em Stuart Sutcliffe (Stephen Dorff), o quinto Beatle, que tem um dom de pintar quadros e toca baixo na banda que, posteriormente, viraria febre mundial. Em 1960, na cidade natal da banda, Liverpool, ele e seu amigo John Lennon (Ian Hart) combinam uma viagem para a Alemanha Ocidental, para fazer shows em bares e tentar conseguir algum tipo de reconhecimento. O filme tem parte de sua história rodada em Hamburgo, onde Stu, como é conhecido, conhece a jovem alemã Astrid Kirchherr (Sheryl Lee), por quem se apaixona e é correspondido. Neste momento nasce o dilema: a banda ou a sua paixão. Sabemos qual foi a escolha dele.
Mais filmes:
– A Música Segundo Tom Jobim
– Tina (Biografia de Tina Turner)
– The Runaways – Garotas do Rock (Biografia da banda e de Joan Jett)