Fernanda Montenegro
“Liberdade é algo que ainda não existe no Brasil enquanto houver caciques, obrigatoriedade de diplomas, fardas, bastões e censura de livros.”
Por Elenilson Nascimento
Um dos maiores e mais graves problemas em nossa sociedade moderna desde os primórdios é, sem dúvida, o preconceito, não apenas sociais, étnico, religioso, sexual, etc, provocando distúrbios, transtornos e até mesmo o suicídio. O preconceito sempre existiu, desde a idade medieval. Na Idade Média, foram criados paradigmas religiosos entre cristãos e pagãos, os que não professavam o cristianismo eram tidos como infiéis e perseguidos pela Igreja Católica. A educação tem sido comprovadamente o único caminho mais acertado para combater esse mal que sempre assolou a sociedade. E, buscando estes conceitos, pode-se proceder a uma análise mais profunda da finalidade educativa e do conteúdo pedagógico das medidas aplicadas, bem como no meio em que se convive, utilizando-se inteligentemente das teorias de Kant, Marx e Paulo Freire.
E se existe algo tão impopular, em épocas tenebrosas como a nossa, é o ato de ler e escrever. A truculência, o preconceito, a canalhice, a força bruta, os grupinhos racistas em redes sociais e o ignorantismo odeiam o conhecimento e a sua expressão. Ler e escrever sempre será uma forma de dizer não à intolerância e à cretinice reinantes. E essa extrema direita brasileira, totalmente ignorante e defensora das loucuras de um presidente pífio, fica pautando a falta de educação e postura. O dia inteiro, todo dia. Soltando absurdos para entreter as redes sociais e causar comoção a imensa massa de manobra. Em parte para normalizar o discurso de ódio e em outra para não ficar na defensiva. E tem funcionado. Que horror! E como disse a poetisa e bibliotecária Kelly Cariolano: “E como deveria se chamar um país que se rebaixa à uma falsa moral utilizada, diuturnamente, por governantes ignóbeis para censurar o conteúdo de uma HQ? Uma moral abjeta que nos conduz e nos reduz a meros cidadãos medíocres. Aliás, o sonho dos medíocres é que sua mediocridade alcance os confins do mundo, rebaixando e equalizando os sábios em ignaros pensamentos e condutas”.
O nível dos nossos gestores públicos anda tão baixo que nesta semana, o diretor da Funarte, Roberto Alvim, chegou ao ponto de chamar a maravilhosa e premiada atriz Fernanda Montenegro de “sórdida” e “mentirosa”. Ai a gente observa que vive em país em que um Zé Ninguém ganha um cargo politico só porque é crente e vive com a Bíblia debaixo do braço, usando-a como absorvente de sovaco, sendo fiscal da vida alheia, e ainda por cima tem a audácia de criticar uma artistas como a Fernanda Montenegro, a maior atriz do Brasil, maior personagem de exportação artística brasileira. Esse Governo é realmente o fim. Tem que chamar de “diretor da Funarte”, porque de nome ninguém conhece o insignificante. Foi por isso que, nos últimos tempos, optei por mergulhar em uma série de finos ensaios. Livros para todos os gostos. De biografias até romances não muito populares, transformados em ensaísmos por diversos autores e que, hoje, anda muito bem representado por escritores de todas as partes do mundo.
“Aqueles que começarem a queimar livros, logo acabarão queimando pessoas”, já dizia Heinrich Heine. Mas a diferença entre democracia e ditadura é simples: na primeira, você pode falar tudo, inclusive defender a ditadura; na segunda, você não pode falar absolutamente nada. Mas há quem diga: tudo que é proibido é mais gostoso. Contudo, infelizmente, nem todo mundo pensa dessa forma. Até profissionais da educação andam manifestando completa ignorância. Recentemente, um colégio tradicional para a classe média de Salvador, organizou uma fogueira dentro do colégio para queimar livros de Monteiro Lobato. Ser professor hoje em dia não significa ser o detentor de conhecimento, aliás, nunca foi. E como quebrar esse ditado quando há um enorme número de livros que já foram censurados em listas de livros mais vendidos? Por isso, fomos atrás e descobrimos dezenas de livros censurados no Brasil e no mundo. Um bom e atual exemplo é o mundo do Harry Potter, criado pela autora J.K. Rowling. A saga que gerou grande burburinho em diversas religiões chegou a ser banida das escolas privadas nos Emirados Árabes Unidos sob a justificativa de que incentivaria a bruxaria.
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Livro ainda é tratado como algo perigoso. E mais recentemente foi a vez do polêmico “Cinquenta Tons de Cinza”, da britânica E. L. James. O best-seller, com mais de 100 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, foi banido das prateleiras da Flórida, Geórgia e Wisconsin, nos Estados Unidos. E até no Brasil, na cidade de Macaé, a trilogia foi censurada por sua narrativa com grande apelo sexual, considerada por muitos, pornografia. O mesmo motivo levou o clássico “Lolita”, de Vladimir Nabokov, a ter todas as suas cópias apreendidas em 1955. A obra conta a história de um homem que se apaixona pela enteada de 12 anos.
E ao falarmos de censura é impossível não nos lembrarmos do período de Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), no qual muitas obras foram censuradas pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Entre elas estava “Feliz Ano Novo”, de Rubem Fonseca. Um ano depois de seu lançamento, chegou a ser proibida a sua distribuição e publicação sob a alegação de ferir a moral e os bons costumes. A autora brasileira Cassandra Rios teve tantas obras censuradas durante o regime militar que chegou a usar o slogan “Um novo sucesso da autora mais proibida do Brasil” em um de seus livros. E na onda da burrice herdada e da censura de livros na recente bienal do Rio pelo prefeito hipócrita e crente Crivella, sugerimos mais 20 livros (“supostos censurados”) para a sua lista de compras! Se joguem!
- “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wild;
- “As Escravas do Diabo”, de Georges J. Demaix;
- “Apartamento 41”, de Nelson Luiz de Carvalho;
- “Memórias de um Herege Compulsivo”, de Elenilson Nascimento;
- “A Vida Sexual dos Ídolos de Hollywood” e “A Vida Sexual dos Papas”, de Nigel Cawthorne.
- “O Segredo de Brokeback Mountain”, de Annie Proulx;
- “4 Novelas Eróticas”, de Amilcar Neves, Marco Antonio de Menezes, Geraldo Lops & Benedito Wilfredo;
- “Clube dos Homens Bonitos”, de Marco Lacerda;
- “Toque de Silêncio”, de Flavio Alves & Sergio Barcellos;
- “131 Posições Sexuais”, de Lu Lacerda;
- “O Amor de Pedro Por João”, de Tabajara Ruas;
- “Filadélfia”, de Christopher Davis;
- “Bom-Crioulo”, de Adolfo Caminha;
- “Dom Carmurro”, de Machado de Assis;
- “No Calor de Zanzibar”, de Alex Von Mann;
- “A Regra de Três”, de Antonio Gala;
- “Tirando a Farda”, de Stewart Chatwick;
- “Sexo, Desvio e Danação”, de Jefffrey Richards;
- “As Vantagens de Ser Invisível”, de Stephen Chbosky;
- “Me Chame Pelo Seu Nome”, de André Aciman.
Livros
Palavreado chulo, incitação à prostituição e à rebeldia são algumas das demências utilizadas como justificativas para censurar livros, tanto por parte de autoridades ignorantes e sem leitura, como foi o caso do Crivella, como também por parte de muitos professores e pedagogos de um livro só. E, mesmo assim, muitas destas obras são até hoje as leituras preferidas de jovens de todo o mundo. Sem falar que há ainda aqueles livros censurados por trazerem histórias de um mundo repreendido por governos totalitários. Como é o caso de “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury, e, claro, “1984”, de George Orwell. Liberdade é algo que ainda não existe no Brasil enquanto houver caciques, obrigatoriedade de diplomas, fardas, bastões e censura de livros. O nosso país ainda não saiu de uma histeria política, com uma aberração proselitista que colocou minorias em seus lugares de servidão bovina e, agora, outro poder ainda mais danoso coloca a sua vocação atutudinal religiosa a serviço de suas crenças pessoais. A educação no Brasil não funcionou como index, como não funcionou sob o algoz de um politicamente correto que enclausurou os isentões também hipócritas, hipocrisia está a direita ou esquerda, o caminho do meio hoje seria a alternativa. Por tanto, leiam muito. Leiam tudo!