Laranja Mecânica, um dos maiores clássicos do cinema
Stanley Kubrick, o mais filósofo dos cineastas, conseguiu transpor para a história uma série de questões sobre a existência humana
A vida de um cinéfilo é bem diferente da vida de um ‘humano normal’. As experiências fílmicas possuem o mesmo efeito criador de personalidade. Aqui não vale tanto a experiência de ter sofrido um acidente, ter perdido uma namorada ou ter brigado com um amigo. As experiências aqui são do tipo, hoje vi Sexta-feira 13 pela primeira vez, ou hoje assisti Cidadão Kane, ou então hoje conheci Frederico Fellini.
No caso, a experiência que marcou minha personalidade cinéfila foi o dia em que conheci, em uma pequena mostra, boa parte da obra do cineasta Stanley Kubrick, a começar por Laranja Mecânica. Não conseguia imaginar um roteiro mais denso que aquele, que conseguisse de modo tão astuto construir uma reflexão filosófica sobre a moralidade humana. Malcolm MacDowell atuava de modo sublime, está entre as três melhores atuações masculinas da história, certamente.
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A trilha sonora me chamava atenção, havia Beethoven por todo o filme, proporcionando algumas sequências absolutamente geniais. E havia “Singin in the rain” cantada e subvertida brilhantemente por Alex De Large, personagem de MacDowell.
Laranja Mecânica é uma das grandes obras-primas do cinema.
A canção que se perpetuou por ser uma representação da alegria, aqui carrega o peso de uma das cenas mais pesadas da narrativa. Laranja Mecânica desde aquele segundo final se transformou em meu filme de cabeceira e qualquer lista que faça de melhores filmes não terá muito sentido se ele não estiver no ponto mais alto.
O segundo filme de Kubrick que vi foi 2001: Uma Odisseia no Espaço, a melhor ficção científica já produzida e dirigida da história. Mais uma vez me via perplexo, naquela sala vazia, e mais uma vez essa sensação vinha já nos segundos iniciais. No caso de 2001, toda aquela grandiosa introdução de muitos minutos era suficiente para colocá-lo no hall dos meus melhores filmes.
2001: Uma Odisseia no Espaço também é uma das obras-primas do cinema.
Kubrick, o mais filósofo dos cineastas, conseguiu transpor para a história uma série de questões sobre a existência humana. O filme até hoje possui como uma de suas forças as músicas de Richard Strauss, Assim falou Zaratustra e Johann Strauss, Danúbio Azul. Impossível não se lembrar ao ouvir uma destas obras.
Terceiro filme, Barry Lyndon (1975). Belíssima obra saída de uma novela de William Makepeace Thackeray. Provavelmente seja o seu filme mais desconhecido, mas é, em contrapartida, o que melhor representa o cinema de Kubrick. Todo o perfeccionismo do cineasta é facilmente percebido nessa majestosa história épica.
A fotografia do filme, dirigida por John Alcott – trabalhando sob a orientação técnica de Kubrick – é inesquecível, e um dos marcos do cinema. Kubrick, só por curiosidade, usou lentes criadas pela NASA para poder filmar alguns interiores. Sublime.
Barry Lyndon é uma obra-prima de Kubrick.
Penúltimo filme, Nascido Para Matar, de 1987, foi outra obra-prima reconhecida logo de cara. O filme, que é basicamente dividido em duas partes – a preparação para a guerra e o ambiente de combate – possui nos primeiros instantes uma força narrativa que já supera grande parte dos filmes feitos atualmente.
Nascido Para Matar é uma obra-prima de Kubrick.
Era verdadeiramente um filme de guerra, com todas as nuances que uma história do gênero precisa. Por último, já no fim daquela intensa semana de descobertas, assisti pela primeira vez O Iluminado (1980), adaptação majestosa da obra de Stephen King.
O Iluminado é uma obra-prima do terror.
Aquela história da família que passa uma temporada em um hotel nas montanhas marcou o resto de minhas experiências com filmes de terror. A transformação psicológica vivida pelo personagem de Jack Nicholson até hoje me assombra e toda a construção do roteiro, bem engenhoso, faz de O Iluminado um dos melhores filmes do gênero. Foi desta forma que conheci melhor o cinema.