Literatura

Literatura: Diálogos Inesperados

“O brasileiro decididamente não gosta de ler e muitas vezes valoriza autores estrangeiros, quando nossos escritores (…) são totalmente esquecidos.”

Por José Pereira Gondim*

Ontem, no início da noite, alguém perguntou para mim, através de uma postagem no Facebook, se eu não poderia escrever textos mais curtos, a fim de se facilitar a leitura. Obviamente, me mostrei receptivo a mensagem do leitor, e, mesmo sabendo que o brasileiro não gosta de ler, de forma nenhuma me prontifiquei a escrever menos, pois, do contrário, jamais serei lido.

Contrariando a isso, numa viagem recente que fiz a Buenos Aires observei que as pessoas têm por hábito a leitura, e você encontra nas praças e parques, dezenas de jovens tomando sol e lendo qualquer tipo de publicação (livros, revistas e jornais). Nos inúmeros cafés pela cidade, você observa casais de idosos concentrados na leitura dos jornais diários, enquanto aqui a maioria das mulheres procura no jornal, apenas, o horóscopo e o resumo das telenovelas. Isso pode até ferir a nossa susceptibilidade, mas, é a verdade!

As livrarias, ao contrário das nossas que vendem picolé, pipoca, perfumes, bonecas, absorventes femininos, preservativos e alguns livros; lá o comércio é centrado apenas, na produção literária de autores locais ou universais. Nos bairros Abasto e Recoleta, bem como no centro da capital, as livrarias (fora de shopping center) funcionam até no domingo à tarde, completamente lotadas, com pessoas lendo e comprando. A rede de livrarias El Ateneo, cuja matriz (no bairro Abasto) fica situada nas instalações suntuosas de um velho teatro é um ambiente imenso, onde o palco foi transformado numa sala de leitura, sempre preenchida por leitores e pesquisadores.

O brasileiro decididamente não gosta de ler e muitas vezes valoriza autores estrangeiros, quando nossos escritores, que estão muito mais capacitados em oferecer uma “panorâmica” mais clara de nossa realidade, pois vivenciam o problema de forma mais próxima, sob todos os aspectos são totalmente esquecidos. Um exemplo do que afirmo está contido na performance ou tenacidade de Elenílson Nascimento, um autor nordestino, baiano, mas com uma visão de mundo bastante amadurecida no cotidiano dos nossos problemas, em várias áreas – que acabou de relançar o livro “Diálogos Inesperados Sobre Dificuldades Domadas” (Clube de Autores – 2015). Explorando os nossos graves problemas, seja através da poesia ou da prosa ele vai demonstrando de uma maneira adulta, que o País tem bons autores, faltando apenas um maior número de leitores, que valorizem o trabalho desses pioneiros, pois afinal de contas, um país que não lê, não pode produzir cidadãos, ou proporcionar cidadania a quem dela precisa, uma vez que isso tudo tem por base o conhecimento.

A falta de leitura tem atrasado o País sob todos os aspectos e a consequência de resistência ao conhecimento tem reflexos diretos em alguns índices sociais como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), onde a Argentina (e também o Uruguai, Chile, Colômbia e Peru) suplanta o Brasil com folga. Em nossas melhores escolas de nível superior pode faltar dinheiro pra construção de um laboratório de pesquisa, todavia, as instalações do sindicato e associações de professores ocupam um vasto espaço, fomentando greves e fazendo a Universidade paralisar por cem dias, como ocorreu na reivindicação de salários, sob o beneplácito de pais e alunos, que nunca (por ocasião das greves) exigiram a volta do professor à sala de aula, a fim de fazer jus a um salário que o mesmo (em greve) nunca deixou de ganhar.

Por ocasião da greve, onde as Universidades Federais pararam por CEM dias, cuspindo no conceito de Entidade de Utilidade Pública, o ANDES (a Associação dos Professores) jactava-se irresponsavelmente, que no intervalo compreendido entre os anos 1980/2005 patrocinara 16 paralisações interrompendo as aulas, por 978 dias. Na oportunidade torna-se de bom alvitre tornar do conhecimento público que o ano letivo tem 200 dias e o período total de paralisação “imposto” pelo ANDES representou SETE SEMESTRES, ou quase 90% dos principais cursos da graduação na Entidade.

Justamente por esse descompromisso todo é que, as nossas Universidades nunca foram incluídas no índice das 100 melhores do mundo, listadas pela Times Higher Education e o País nunca ganhou o Prêmio Nobel em nenhuma das suas seis modalidades. Enquanto isso a Argentina, talvez por essa mania “tola” (?) de valorizar a leitura já arrebatou essa premiação, em nada menos que CINCO oportunidades (medicina, química, economia e no quesito PAZ duas vezes). Outros países da América Latina, como México, Guatemala, Cuba, Chile, Colômbia e Peru também já ganharam essa “comenda”, enquanto o Brasil foi apenas PENTA campeão de futebol. Arre égua! AMÉM!

* José Pereira Gondim é autor das trilogias “A Forja do Cinismo” e “Jesus e o Cristianismo” (a venda em O Sebo Cultural/PB, nas Livrarias Estudantil, Saraiva e Imperatriz/PE e em algumas mais no País), onde esse e outros temas conflitantes são tratados com responsabilidade, mas, se eufemismos.

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