Literatura

Literatura: entrevista com o escritor Marcos Cerqueira

Marcos Cerqueira

“As editoras, é claro, procuram obter lucro e é mais fácil dar oportunidade a um escritor consagrado do que a alguém como eu, totalmente desconhecido.” (M.C.)

Por Elenilson Nascimento

Para mim, como leitor e também escritor, certos autores brasileiros como Graciliano, José de Alencar, Lima Barreto, Cecília Meireles, Machado, Clarice, Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, Eva Furnari, Conceição Evaristo, André Dahmer, Marçal Aquino, Veronica Stigger, Luisa Geisler, Raphael Montes, e assim por diante, são toda a extensão da hashtag #tudodebom da glória na literatura. Muitos outros, porém, têm uma visão mais restritiva. O que importa é a história que está sendo contada e as necessidades narrativas do momento; se a história que é pedida vier de uma não-ficção (ou autobiografia, história da arte ou história dos papagaios) está bom para mim também. Mas deve estar de acordo com as demandas e a estrutura do livro. Não existe virtude na heterogeneidade, a menos que o produto final funcione.

Inúmeras vezes assistimos entrevistas com renomados escritores e uma das perguntas que nunca deixam de ser feitas é o que “levou aquela pessoa a ser escritor?”, mesmo com todo o desinteresse cada vez maior das pessoas em consumir livros. Não há uma fórmula precisa, não há nenhuma receita de bolo. Não é como o encontro de duas almas que se conhecem e decidem unir também seus corpos. Escritor também não brota do chão, e não é nada fácil ser escritor no Brasil. Muitos se enganam ao pensar ainda que escritor é aquele ser que fica sentado em berço esplêndido esperando cair do céu uma inspiração. Que vive apenas de sua escrita. E então, como nasce um escritor?

Nascido em Feira de Santana (BA), no ano de 1963, o nosso entrevistado Marcos Cerqueira é um bom exemplo. Em 1981 mudou-se para Salvador para estudar, trabalhou na área de TI por 32 anos, foi professor da Universidade do Estado da Bahia, no curso de Sistemas de Informação, e, recentemente, lançou o seu primeiro livro “Duas Lutas – Uma batalha pelo reino”, pela Editora Chiado. “Sempre gostei de ler e tinha muita vontade de escrever. O fato curioso é que, alguns anos atrás, fui a uma noite de autógrafos de um famoso escritor. Lá estava eu, um desconhecido na fila, vendo autoridades ali presentes, quando chegou minha vez de receber o autógrafo. Então, falei ao escritor: -Posso lhe contar um segredo? Sempre tive vontade de escrever. Foi quando ele respondeu: -Posso lhe contar outro? Faça como eu, que comecei a escrever e não parei mais. Foi assim que surgiu o livro Duas Lutas.”

Elenilson – A partir de sua trajetória pessoal, como o senhor vê o desenvolvimento do campo profissional, literário e acadêmico no Brasil, levando-se em conta as diferenças desse processo nos diferentes Estados, principalmente em uma província atrasada como é o caso da nossa Bahia?

Marcos Cerqueira – Vejo que o momento atual é preocupante, devido ao fato de que a Bahia é só considerada a terra da música, do Carnaval (apesar de serem importantes), ficando nossa atenção desviada apenas para isso, esquecendo que existem coisas sendo produzidas no teatro e na literatura. A própria educação pública, que passa por uma crise muito séria, afasta o interesse dos alunos da literatura.

Elenilson – Quais são suas referências literárias? Que autores influenciaram em sua formação como escritor?

Marcos Cerqueira – Desde criança comecei a leitura de revistas em quadrinhos. Mais tarde, mudei para os livros. E passei a amar os livros. Sempre gostei de autores que tratavam os temas de investigação, suspense, aventura e guerra. Meus autores preferidos são Frederick Forsyth, Ken Follet, Bernard Cornwell e Agatha Christie.

Elenilson – Como foi o processo de produção e edição do seu livro “Duas Lutas”?

Marcos Cerqueira

Marcos Cerqueira – Sempre tive gosto pela escrita, ficando com aquele desejo de escrever um livro, mas nunca me lancei a escrever. Até que aos 56 anos, comecei. O que me motivou? Creio que a vontade de escrever algo que fosse agradável para os leitores, onde eles pudessem ver o que acontecia no passado. Sempre gostei muito da Inglaterra e li muitos livros que se passavam por lá. O processo da escrita foi relativamente pequeno, cerca de quatro meses. O processo da edição foi um pouco mais complicado, já que eu não tinha conhecimento algum. Mas, quando temos algo forte dentro de nós, as coisas vão surgindo. E foi assim que recebi a indicação da editora através de uma pessoa conhecida. Daí em diante o processo transcorreu normalmente. O difícil é a fase de divulgação. Estou tendo dificuldades, visto que não sou conhecido. Mas vou trabalhando aos poucos, vencendo as dificuldades.

Elenilson – O enredo de “Duas Lutas” se passa na Inglaterra, mas poderia muito bem ter acontecido em qualquer cidadezinha de interior deste Brasil profundo. Qual ou quais os critérios que o senhor adotou para transpor as personagens para a vila de Chipping Campden, tendo como pano de fundo o fim da Guerra das Rosas, o rei Ricardo III e Henrique VII?

Marcos Cerqueira – Creio que vou falar em algo que nem todos acreditam ou entendem. Mas eu acredito que nós vivemos vidas passadas, assim como viveremos vidas futuras. O fato é que escrevi sobre a Inglaterra, onde tenho certeza de que já vivi. Eram fatos que habitavam minha mente e que saíram de uma forma leve, com naturalidade. Creio que os fatos ali narrados se devem a algo que já vivi em outra vida.

Elenilson – Em “Duas Lutas”, o enredo é muito bem escrito, até o senhor debandar para cenas de sexo totalmente desnecessárias que mais parecem guias de sexo em puteiros para homens deslocados. Nelson Rodrigues é um bom exemplo de escritor que falava o tempo todo de sexo sem cometer a tolice de fragilizar o texto, mesmo com a sociedade toda achando o contrário. Comenta.

Marcos Cerqueira – Temos muito preconceito quanto ao sexo. Tinha consciência de que isso poderia ser visto como algo desnecessário por algumas pessoas. No entanto, quis escrever como os fatos se passaram, sem omitir nada. Utilizei uma linguagem que era apropriada à Idade Média, na Inglaterra. As cenas de sexo estão no contexto da narrativa, acontecendo naturalmente, sem que o livro seja “pornô”.

Elenilson – Eu senti muita falta de mais detalhes sobre a personagem Kate, principalmente pelas “escolhas” que ela teve que fazer no decorrer da trama. Supostamente a pobreza e aquele marido machista a levou a tomar tais decisões. Mas como uma mulher dependente do marido, que foi educada (ou não) para manter a cabeça baixa, tão rapidamente, tomou tantas decisões importantes em tão pouco tempo? 

Marcos Cerqueira – Kate é uma personagem forte e que teve uma vida muito difícil. Precisamos retroceder no tempo e visualizarmos como as coisas aconteciam. Era uma vida dura para as pessoas mais pobres, em um contexto diferente do que vivemos hoje. Ela tinha que tomar uma decisão em sua vida: ou faria uma mudança ou passaria o resto de sua vida sofrendo. O que você escolheria?

Elenilson – Pergunta clichê, mas necessária: o senhor já sentiu algum tipo de preconceito dentro da universidade e/ou no meio literário?

Marcos Cerqueira – Vou dividir a resposta. Na universidade, como estudante, nunca sofri preconceito. Estudava e era bom aluno, com o objetivo de poder alcançar algo na vida. Como professor da Universidade do Estado da Bahia tenho boas recordações, pois tinha um relacionamento cordial com os colegas e era querido pelos estudantes. Já no meio literário ainda não tenho o que falar, pois estou iniciando e não tive contato com outros autores. Começarei a ter contato com o público agora, na noite do lançamento do meu livro.

Elenilson – Que tipo de literatura o senhor não faria?

Marcos Cerqueira – Creio que não faria literatura no estilo terror. É um estilo que não me agrada. Curioso é que antes eu pensava que não escreveria sobre romance, mas não é que a história contada por um casal me interessou e eu comecei a escrever? Não sei o que vai acontecer, mas vamos aguardar o futuro.

Elenilson – O senhor é formado em TI. Não sei se leciona, mas como analisa muitos dos nossos colegas professores (*e não são poucos) que não leem, não trepam com vontade e não oxigenam os cérebros por acharem desnecessário. Professores são um grupo que não se respeita e não respeita os outros. Como você analisa a Educação não como formadora de cidadãos críticos, mas apenas como uma infinita boiada de marcadores de xis em provas do Enem?  

Marcos Cerqueira – (risos) Sinceramente? Eu creio que os professores estão no mesmo universo em que estão as demais profissões. O problema não está no professor, está no ser humano. Temos formas de agir que são deploráveis, comportamentos que não são adequados. Mas creio que tudo isso faz parte do processo evolutivo em que todos nós estamos inseridos. Você tocou em um assunto relevante: ao invés de estarmos formando seres para o mundo, estamos formando marcadores de “x” nas provas do Enem. Mas eu lhe digo: existem escolas em Salvador que dão uma formação humanista aos alunos. O problema é que só vemos aquelas que são formadoras dos alunos para obterem boa nota no Enem.

Elenilson – O que levou o senhor a escrever “Duas Lutas”? O senhor acha que a figura do “leitor” continua em segundo plano nas reflexões literárias?

Marcos Cerqueira – O que me levou a escrever o livro foi para mostrar aos leitores o que acontecia em uma época atrás. É importante que vasculhemos o passado, para podermos nos inserir melhor no presente e criar um futuro diferente. O livro trouxe cultura para os leitores. Para mim, o leitor é uma pessoa muito importante. Apesar de poder fazer, eu não criaria um livro “água com açúcar”, com um apelo comercial forte apenas para vender. É por isso que eu não gosto de autores (não vou citá-los) que tem uma literatura fraca, vendem muito e não acrescentam nada na vida dos leitores.

Elenilson – No livro, o senhor faz uma interessante mistura entre crítica de costumes, ficção e escrita autobiográfica. Como e por que o senhor chegou a esta forma de escrita neste livro? 

Marcos Cerqueira

Marcos Cerqueira – Bem, obrigado pela “escrita autobiográfica”. Mas esse é meu estilo. Aliás, gostaria de lhe convidar para você ler e criticar os meus dois livros que já estão prontos, quando forem editados. Não sei quando serão editados. As dificuldades encontradas no primeiro livro precisam ser vencidas, para eu poder pensar em editá-los. Um é sobre assassinatos que aconteceram na côrte de Versalhes e o Rei Luís XIV manda chamar um policial aposentado para investigar os crimes. O outro se passa na Inglaterra (minha Inglaterra!) no ano de 1870 e conta a história de um policial que investiga o assassinato de um banqueiro. Se você observar, o estilo da escrita, a linguagem fácil, fluida é a mesma. As histórias são diferentes.

Elenilson – No Prefácio o senhor escreveu que a obra “trata-se de uma história vivida em outra vida e que aos poucos foi sendo revelada”. O senhor é espírita? Explique melhor.  

Marcos Cerqueira – Sim, sou espírita. Mas não quero transformar minha obra em algo apenas para aqueles que acreditam em outras vidas. Ela não é uma obra espírita, é uma ficção histórica. Meu livro é para ser lido por budistas, católicos, evangélicos, aqueles que creem na religião afro, judeus, ateus, enfim, todas as pessoas. O fato de que eu acredito não significa que só me interesse por aqueles que também acreditam. Aliás, respeito todas as crenças. Acredite ou não em algo, essa é uma decisão sua, que ninguém tem o direito de interferir, julgar ou estabelecer preconceito.

Elenilson – O que anda lendo?

Marcos Cerqueira – Sou uma pessoa que não consegue ler apenas um livro. Estou lendo “Depois Daquela Montanha”, de Charles Martin (um livro excelente, uma luta pela sobrevivência); “D. Pedro”, de Paulo Rezzuti (um livro muito bom para entendermos um pouco melhor como era o Brasil e quem foi a figura de D. Pedro I); e “Escravidão”, de Laurentino Gomes (um livro precioso para entendermos o processo de escravidão no Brasil). Apenas “isso”!

Elenilson – O senhor gosta de provocar ou prefere estapear as caras dos leitores para acordar?

Marcos Cerqueira – (risos) Nem uma coisa, nem outra. Prefiro escrever uma história que possa ser inteligente, informativa, que prenda o leitor.

Elenilson – Em tempo de movimentos sociais rasos, todos “chapa branca”, mais vale um cargo público que se indignar com a dor de famílias pobres, vítimas de todo tipo de truculência do Estado. O senhor, como cidadão engajado, conectado, que pensa, quem tem um discurso não muito comum, o que acha disso?

Marcos Cerqueira – O que vou falar pode parecer algo superficial, mas não é. Eu creio que precisamos de mudanças, de formas de agir e de pensar. Mas, isso não acontece rapidamente. Nós nos indignamos com as coisas erradas que vemos, com o sofrimento do povo, com o roubo que acontece com o dinheiro público. Mas eu creio que precisamos sofrer para acordar para essa realidade. Já estamos em um processo de sofrimento há muitos anos e agora eu vejo o povo mais consciente, sabendo que existe a necessidade de se contrapor ao que está sendo feito errado. Da minha infância para o dia de hoje, já vi mudanças. Precisamos mudar mais, mas só o tempo irá consolidar esse nosso desejo.

Elenilson – O povo consciente de verdade não quer saber de invasões de propriedade, de MST, de guerra convocada por Lula e afins. Quer melhores serviços públicos, pois paga pesados impostos, e oportunidades boas de trabalho. Coisas que o PT e, agora, o Governo do Bozonaro tem impedido, com sua incompetência, roubalheira e ideologia ultrapassada. Comenta.

Marcos Cerqueira – Sou de TI e lhe digo: a tecnologia é o fator que está mudando o mundo. Veja, por exemplo, que os celulares com suas câmeras tem registrado coisas que sempre aconteceram mas não eram registradas. A força das redes sociais está fazendo com que as pessoas se posicionem rapidamente e criem força com o que pensam. Creio que teremos uma melhoria acentuada nos próximos anos e isso não é por causa dos governantes: é o povo que está mais atento, mais engajado e não se deixando enganar facilmente.

Elenilson – O que se vê de socialismo atualmente não anima ninguém que tenha um mínimo de capacidade de reflexão. Eu não voto mais no PT, assim como milhões de outros sem voz e sem vez desse país, porque o PT saiu de si mesmo e está infestado de gente desonesta. O senhor também acha que o partido do Lula/Dilma perdeu o eixo ético? O PT mudou ou sempre foi isso mesmo?

Marcos Cerqueira – Creio que você pode enganar alguns durante muito tempo; pode enganar poucos durante algum tempo; mas não pode enganar todos durante todo o tempo. Precisamos de um país melhor, para termos melhor condição de vida. Aliás, vou falar de um ditado que criei: “O Brasil é o país mais rico do mundo, pois está sendo roubado há 500 anos pelos de fora e pelos de dentro, e continua RICO!!!”. Não existe um país com a riqueza que o Brasil tem. Melhores dias virão.

Elenilson – Como o senhor avalia esses movimentos sociais que estão só preocupados em postar vídeos xingando o Governo ou qualquer um que pense diferente da caixinha pelas redes sociais. O exemplo dos militantes do Movimento Negro que recentemente invadiram uma sala de aula na USP causando tumulto e resultando numa série de debates rasos em vários veículos de comunicação, como a Folha de São Paulo, e até o ex-deputado Jean Wyllis se mostrou totalmente desinformado em tratar o caso, afinal o nobre deputado recebe o nosso dinheiro no Congresso Nacional para mostrar descontrole. Comenta.

Marcos Cerqueira – Creio que estamos em um Universo onde existem interesses diversos: uns bons, outros ruins. Se você observar outros países, vai ver casos semelhantes. Na Alemanha, por exemplo, os neonazistas continuam pregando aquelas mesmas ideias que levaram o mundo à segunda guerra; nos Estados Unidos, vemos os racistas com suas ideias retrogradas de ódio aos negros; na Suécia, vemos pequenos bandos de malucos pregando ideias de preconceito contra imigrantes. Assim caminha a humanidade!

Elenilson – O Estado Brasileiro, não é exagero, mata mais que o Estado Islâmico, mas contra o EI (que não é um estado de verdade) o mundo vem se mobilizando, aqui infelizmente o Estado se nutre das misérias que produz, cada dor, cada morte, para que se torne mais poderoso e intimidatório. Como o senhor encara o aumento assustador da violência em nosso país?

Marcos Cerqueira – É um caso de polícia! Bem, deveria ser. Atualmente vivemos em bolhas: a bolha do shopping, a bolha do condomínio, a bolha do Carnaval “all inclusive”! Temos que reivindicar cada vez mais nos seguintes itens: segurança, educação e saúde.

Elenilson – Conte-nos, nobre Cerqueira, de onde veio a ideia ou necessidade de se tornar um escritor, as dificuldades, o momento mais complicado, a falta de apoio, as alegrias e o momento atual…

Marcos Cerqueira Bio

Marcos Cerqueira – Sou uma pessoa que lutou muito na vida. Tive problemas sérios de saúde, enfrentei-os e aqui estou nessa entrevista. Penso que precisamos enfrentar as dificuldades, pois com elas aprendemos muito. Agradeço a Deus por cada dia vivido, pelo sol da manhã, por essa natureza tão bela nesse país, que será um país maravilhoso. Tenho fé em Deus! Minha maior alegria? Ver minha família, minhas filhas e saber que elas estão bem, lutando em suas vidas. Somos diferentes, mas as nossas diferenças nos fazem aprender sempre.

Elenilson – Quando olha para o panorama literário atual, em geral, as editoras de sempre, com seus autores com as mesmas ideias, as panelinhas, as subcelebridades alavancadas ao título de autores, em particular, que ideias lhe ocorrem?

Marcos Cerqueira – Costumo imaginar que todos pensam em sua sobrevivência. As editoras, é claro, procuram obter lucro e é mais fácil dar oportunidade a um escritor consagrado do que a alguém como eu, totalmente desconhecido. Mas, se você olhar outras profissões, vai ver algo semelhante. Veja o caso dos jogadores em qualquer área esportiva: só os melhores, os mais falados, são os que realmente ganham dinheiro. O resto luta por um lugar ao sol.

Elenilson – O que leva o senhor a não gostar de um livro? O senhor poderia falar mais sobre isso?

Marcos Cerqueira – Creio que é algo muito pessoal: cada um gosta de um estilo. Por exemplo, não gosto de livro apenas dedicado ao estilo romance. Tem que ter uma aventura, um suspense no meio. Não leio livro de terror de forma alguma.

Elenilson – A carreira de escritor do André Vianco, por exemplo, começou numa, digamos, infelicidade, ele havia perdido o emprego e acabou usando seu FGTS para bancar a publicação de “Os Sete”. Coisa bem parecida com de muitos outros escritores. O que o senhor acha que estaria fazendo se não tivesse tomado a decisão de “tentar”? 

Marcos Cerqueira – Minha situação é um pouco diferente. Eu escrevi aos 56 anos, depois de ter minha carreira profissional consolidada. Mas o que eu posso dizer que a carreira de escritor no Brasil é muito difícil. Estamos em um país onde não se incentiva a leitura, vivemos em uma cidade onde só se curte o dia de hoje, as festas, os embalos, os reggaes. Mas eu lhe digo uma coisa: a tecnologia (olha ela outra vez) está nos ajudando muito. Veja, por exemplo, que o Instagram está produzindo, no Brasil, dezenas ou centenas de pessoas dedicadas a ler, comentar, produzir resenhas. Isso é fascinante! E o meu entrevistador também é um deles, com um estilo inovador, questionador que aprecio muito.

Elenilson – Hoje está mais fácil para se começar a montar sua rede de leitores. As portas estão aí, abertas. Tem as redes sociais e as plataformas digitais, onde você pode tanto publicar gratuitamente, quanto colocar o seu livro já a venda nas lojas digitais como a Amazon que é uma das mais fáceis de publicar. Eu sempre apoio os leitores a publicar na Amazon. E o talento fará a sua reputação. Então é fácil você começar hoje. Por outro lado, está mais difícil de você pôr numa livraria física, por exemplo. Como o senhor chegou com o seu livro impresso e colocou à venda numa livraria física?

Marcos Cerqueira Duas Lutas

Marcos Cerqueira – Vamos situar o contexto: primeiro eu tive que pagar pela edição, que não foi algo barato. Segundo, a editora fez parceria com a Amazon, Martins Fontes e Travessa para que meu livro fosse colocado no site deles. Não há livro físico ainda nas livrarias, pois a editora me disse que depende da parte comercial das livrarias fazerem os pedidos. Assim, estou aqui lutando para divulgar o livro, tentando criar o meu espaço.

Elenilson – Escritor brasileiro tem muita imaginação, muita vontade de contar e essas transformações que eu disse que a banda larga está trazendo, põe as pessoas cada vez mais em contato com os textos, ideias, com imagens, com vídeos, com assuntos, com temas que eles querem transmitir. A gente sabe que hoje em dia o escritor nacional é mais intuição do que técnica. A que você atribui esse fato?

Marcos Cerqueira – Entendo que cada um escreve do jeito que pode, da forma como acha viável. Eu escrevi um livro para que as pessoas pudessem entender um momento que existiu lá no passado. Creio que foi um pouco de intuição com muito da técnica que aprendi lendo vários e vários livros.

Elenilson – O que ainda podemos esperar do Marcos Cerqueira?

Marcos Cerqueira – Pode-se esperar que eu consiga publicar meus dois outros livros, para que os leitores possam se deliciar, além de que creio que meu trabalho é muito importante para um país onde se lê tão pouco. A você, Elenilson, o meu agradecimento por sua entrevista!

Contato do autor:
[email protected]
Insta – @livroduaslutas

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