Literatura

Literatura: O Festim dos Corvos – As Crônicas de Gelo e Fogo – George R. R. Martin

Capa Festim dos Corvos

“O que Martin faz com o ‘poder da religião’ nesse volume é absolutamente maravilhoso… mas, o restante dos argumentos é pífio…”

Por Elenilson Nascimento

Quem andava me cobrando uma resenha para um dos livros da série “Game Of Thrones”, de George R. R. Martin, adianto que me arrisquei nesse Quarto Livro, “O Festim dos Corvos – As Crônicas de Gelo e Fogo”, e vou logo adiantando: não gostei e esse foi o primeiro e único da série. Mas valeu pela experiência. Além de gigante (635 páginas) e letras minúsculas, o excesso de informações me deixou com dor de cabeça, além de uma infinidade de personagens numa mesma página que achei bem estranho.

A primeira característica que o leitor fica com um pé atrás ao começar a folhear o livro é o fato de que alguns personagens são nomeados com “títulos” (proféticos, talvez) e não com os nomes originais. Sem dúvida rola aquela sensação de “putz, esse livro vai expandir ainda mais o nível de polarização das tramas”. E mesmo que o leitor comum nem tenha se dado ao trabalho de chegar ao final do livro, logo vai perceber que muitos personagens que acompanhamos na série de TV e/ou nos livros de “A Guerra dos Tronos”, “A Fúria dos Reis” e “A Tormenta de Espadas” não estão presentes durante a narrativa. Meio frustrante.

Queria descobrir o que aconteceria com o anão sacana Tyrion Lannister, o matador de pai, mas fiquei frustrado ao perceber que nada é falado sobre esse personagem. Todas as vezes que seu nome foi citado fora apenas pela boca de sua irmã Cercei Lannister que, nesse volume, é a personagem mais citada, mais polêmica e odiada. Uma mulher que só pensa em eliminar seus inimigos e preservar sua posição de poder (*quem acompanhou a 5ª temporada da série deve ter adorado o final que lhe foi reservado). E apesar de achar tudo meio exagerado durante a leitura, entendo as suas ações. Num mundo onde somente os fortes sobrevivem, se Cersei demonstrasse fraqueza na gestão do reinado, a única coisa que lhe restará é uma forca ou um golpe de espada em seu pescoço.

O livro é muito enigmático, confuso e cheio de informações repetidas de toda a saga. Do ponto de vista de Pate, um noviço da Cidadela de Vilavelha que estuda para um dia se tornar meistre, sabemos que as pessoas pouco a pouco estão começando a acreditar que os dragões realmente ainda existem e que, ali na Cidadela, existe um segredo envolvendo uma vela de obsidiana. Esse capítulo é todo especial por passar a sensação de que estamos dentro de um livro do Tolkien, ou no início de um jogo de RPG. Vários personagens novos e peculiares juntos conversando em uma taverna – um saco! Sexo e violência possuem a mesma acidez de sempre, trazendo cenas fortíssimas. Infelizmente, como sempre, os vilões sempre trazem a ruína dos bons junto com a ruína própria, mas não sei se foi descuido meu, nem consegui identificá-los.

O que Martin faz com o “poder da religião” aqui é absolutamente maravilhoso… Ela dá o tempero do livro todo: a jornada do meistre Aemon, a Cidadela, a Fé Militante e o Deus Afogado nunca antes pareceram tão fervorosos e assustadores em sua crença. E é claro, Arya, e sua entrada tão enigmática no serviço do Deus das Muitas Faces. Quem é muito fã da série e não surtou, é porque não viu o último e raso episódio da 5ª temporada. O que foi aquela merda, hein? O único conforto ao final, foi ver que estamos todos nós juntos, fãs da série, nessa angústia e decepção. E pelo que observei, é impressionante como a história na série acontece muito diferente dos livros, discrepâncias impressionantes. Ou seja, não é bem a série do livro que estamos vendo. Parece que os roteiristas tiraram leite de pedra!

Cersei Lannister

Mas nesse “O Festim…” fiquei muito encantado com o gordinho Samwell (inteligente e comedor de livros): “Estava brutalmente cansado, mas era difícil parar. Mais um livro, dizia a si mesmo, depois paro. Mais um fólio, só mais um. Mais uma página, e vou para cima descansar e comer qualquer coisa. Mas havia sempre outra página depois daquela, e outra a seguir, e outro livro à espera por baixo da pilha. Vou só dar uma espiadela rápida para ver qual o assunto deste, pensava, e antes de se dar conta já tinha lido metade”. Identificação total! Esse e outros motivos, que um dia eu explicarei melhor nesse trato com os livros, me fizeram tomar uma decisão: sim, talvez eu volte a ler outras obras de George Martin. Talvez…

Em suma, a impressão que eu fiquei é que esse livro é mais um produto do marketing de grande uma grande editora. Sendo assim, “O Festim…” pisa no freio para dar uma desacelerada e uma respirada. Talvez o autor não devesse ter tido tantos cuidados, pois aqueles leitores sem paciência, o melhor sem vontade de uma leitura tão cansativa, seria muito melhor pular essa edição, pegando um resumo básico no Google e passar direto para o próximo. Àqueles que pretendem ler a saga inteira, no entanto, tenham paciência com este volume. Pelo que fiquei sabendo, o próximo vai ser melhor.

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Cultural e possui o excelente blog Literatura Clandestina

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