Crítica

Marcelo Tas fala sobre Papo de Segunda, CQC, Olimpíadas…

Coluna da jornalista Camila Botto sobre tudo que acontece no mundo televisivo

Entrevista com Marcelo Tas

Com um cenário simples, quatro amigos – de perfis completamente distintos – se reúnem toda segunda-feira para debater os mais diversos temas. Esse é o mote do Papo de Segunda, que vai ao ar semanalmente, às 22h, no GNT. Os jornalistas Marcelo Tas e Xico Sá, o cantor e compositor Léo Jaime e o publicitário e ator João Vicente de Castro completaram um ano no ar este mês e, para fazer um balanço da atração de debates, conversamos com Marcelo Tas.

Em entrevista para a coluna, Tas fala ainda que vai participar da cobertura das Olimpíadas no Rio de Janeiro, lamenta o fim precoce do CQC, programa ao qual liderou por sete anos; e acredita que a era de ouro do jornalismo está apenas começando.

Um ano de Papo de Segunda. Vocês já começaram muito bem, mas queria ouvir tudo opinião. O que você enxerga de diferente da estreia para cá?

Quanto mais entrosado e mais velocidade vai ganhando a nossa nave, mais difícil vai ficando. É uma coisa natural. Quando o programa dá certo é bárbaro, mas ao mesmo tempo vai aumentando as exigências. Vamos atingindo mais gente e tem as cobranças de fora e as nossas também. Eu adoro esse jogo de depois de ser aceito ter que continuar melhorando.

Fica mais difícil, né?

Sim. Você tem que ir para os detalhes. No nosso caso, que é um jogo de se mostrar, de se entregar, a gente acaba encontrando algumas áreas que a gente não gostaria de entrar. Ou mesmo na nossa relação, vamos nos conhecendo melhor um ao outro. E como em qualquer casamento, você vai descobrindo coisas que você ama e coisas que você também não gosta.

Você já apresentava o CQC (também ao vivo), mas é sempre complicado a condução de uma atração ao vivo. Queria saber como é esta produção?

O Papo de Segunda é mais difícil que o CQC porque não tem um personagem como tinha no CQC, que falava de uma coisa muito mais fácil de falar que é o Brasil (risos). Lá a gente está falando da gente então o perigo é bem maior, pois estamos nos colocando, dando a cara para bater. A gente se prepara muito e aí está uma identificação grande que eu tive com o GNT desde o começo. Nunca vi um canal que cuidasse tanto do conteúdo então tudo é preparado com muito carinho e muita antecedência. Tem uma equipe dedicada ao programa, temos pesquisadores, consultores, roteiristas…nós temos uma reunião de pauta logo na terça e antecipação mínima de quatro programas. Mas sempre deixamos um tema quente que é fechado na semana. E no dia tem um ritual importante. Nos encontramos às 18h, fechamos o roteiro e aí temos uma longa reunião, onde falamos sobre os temas.

Papo de Segunda

Quais são os assuntos preferidos de vocês?

Não tem um assunto preferido. Toda conversa é inesperada. Você chega em regiões inesperadas. Não tem roteiro do debate, temos roteiro apenas do tema. Não há como planejar o que vem e aí há a importância de uma afinação entre nós. Cada um tem seu jeito. Xico Sá escancara geralmente e é o jeito dele. O João (Castro), por incrível que pareça, é um cara jovem e mais reservado. O Léo (Jaime) é um cara que tem uma maturidade incrível e ele sabe se expor de um jeito doce, de um jeito generoso e ao mesmo tempo recatado. E eu tenho essa fama de ser o cara que não fala, mas mudei radicalmente. Mas eles continuam me trolando, injustamente, diga-se de passagem (risos).

Você foi um dos cabeças do Teia GNT, que aconteceu no começo do mês e reforçou a importância do empoderamento feminino. Queria te ouvir um pouco mais sobre este evento e esta causa tão importante dados os últimos acontecimentos.

Infelizmente houve uma convergência desses fatos trágicos acontecerem na semana do Teia, o que mostra a necessidade de estarmos debatendo isto e avançando. Creio que precisamos ir além do debate. A gente precisa avançar em mudanças na legislação e sobretudo na consciência. Para mim, é muito claro a realidade absolutamente precária que a gente vive. Creio que é muito necessário a gente se olhar no espelho diariamente e reconhecer o machismo criminoso que é a matriz da sociedade brasileira e que está presente em homens e mulheres. Eu me identifiquei muito com o movimento desde o ano passado com o Eles Por Elas, pois é uma coisa que chama por todos nós. Esse ano eu moderei dois debates que foram inspirados por dois filmes. O primeiro, um documentário sobre a Malala (ativista paquistanesa). Apesar de conhecermos, vale avançar mais e conhecer a história da família, da região que ela vive, que tem muitas semelhanças com o Brasil. O segundo debate foi inspirado no filme brasileiro Vidas Partidas, que vai estrear em agosto, que é uma paulada. É uma ficção sobre uma mulher que sofre violência dentro de casa e os atores estão tão incríveis que você vê a realidade e foi…nossa, eu me enrolei todo, fiquei totalmente tonto, muito emocionado. Foi um dia muito intenso, de muita vivência.

Além do Papo de Segunda, quais seus outros projetos para este segundo semestre?

Eu vou participar da cobertura das Olímpiadas no Sportv, que é vizinho do GNT e as minhas chefinhas autorizaram essa pulada de cerca. Estou muito feliz porque sou admirador dos profissionais do Sportv, acho um canal incrível. Eu já participei da cobertura de duas Olimpíadas, mas no Brasil, obviamente, será uma oportunidade única. Estou muito animado. Além disso, eu tenho blog, o Tasômetro, que acabei de renovar ele todo e alinhar ele com esses debates. Chamo isso de reeducação. É uma educação e diversão. Como aprender esta realidade dramática com humor e crítica. Estou muito feliz em poder realizar mais coisas neste canal independente da minha trajetória televisiva. Comecei também uma coluna semanal (nas segundas-feiras) na rádio CBN, na qual faço uma extensão dela no blog. Eu amo fazer rádio e amo interagir com meu público nas redes sociais então estou adorando.

Tas, queria repercutir contigo o fim do CQC. Muito se falou que o programa perdeu com a sua saída, mas ninguém esperava um fim. Você achou precoce?

O programa poderia dar mais, mas ele, na minha visão, não soube se renovar. Creio que isso abreviou a história dele. Acho que a história poderia ser mais ampla. Imagina o CQC no ar hoje com tudo que tem acontecido em Brasília! Tem lugar para o CQC. Fico até comovido e grato com a quantidade de gente que me escreve falando isso, que gostaria de ver o CQC no ar…eu também. No meu caso, eu procurei ser um agente dessa renovação até onde eu consegui e a partir do momento que eu não vi mais espaço para isso achei que estava na hora de passar o bastão para ver se alguém conseguia fazer aquilo que eu não consegui e aparentemente não conseguiram. Só acho que isso faz a gente reconhecer o quanto o CQC foi um projeto ousado. O CQC conseguiu colocar no ar coisas que nunca tinham sido feitas na televisão. A gente tinha uma coragem de abordar autoridades e até mesmo temas de uma forma muito aberta, direta, usando o humor. Eu fico feliz de ver o reconhecimento da importância de um projeto que revelou tantos talentos.

Marcelo Tas

Muitos dos teus companheiros no CQC estão na Globo ou nos canais Globosat. Boa parte deles estreou para o grande público ali contigo. Como é ver estes colegas hoje? Consegue acompanhar as carreiras deles?

Minha vida é muita correria, mas eu procuro acompanhar os meninos e as meninas. Acho que estão indo muito bem e só mostrando o que eu já sabia: eles são talentosos para caramba. Fico muito feliz, muito orgulhoso de ver eles arrasando por aí. Eventualmente, a gente se fala, se encontra, mas a vida está corrida para todos.

Para fechar, queria te ouvir como jornalista. Em tempos de redes sociais, o jornalismo precisa se reinventar?

O jornalismo que vai acabar é aquele que se confunde com tinta e papel. O jornalismo é a capacidade nossa de entender a complexidade e traduzir, com qualidade, isso de uma maneira para um público amplo. Isso você pode fazer no papel e em qualquer outra plataforma. Precisamos ter essa consciência. O jornalismo antigo, que era aquele dono da verdade, aquele que obrigava o leitor a ficar esperando por ele, esse jornalismo, para mim, já acabou. O público hoje é muito mais exigente com tudo. Nós jornalistas sempre tivemos muita dificuldade em ser corrigidos, de reconhecer os erros ou então ouvir pontos de vista diferentes. Vivemos a melhor era para quem quer ser jornalista. A era de ouro do jornalismo está só começando, mas ela vai exigir muito mais de nós (risos).

Formada em jornalismo com pós-graduação em mídias digitais, Camila Botto é colunista do Cabine Cultural, editora-chefe do Feminino e Além, autora do livro Segredos Confessáveis e sócia da Dendê Cult Press.

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