Música

Maroon 5 em Salvador: palmas para a banda, vaias para a (des) organização

Maroon 5 em Salvador – Crédito: Magali Moraes

Maroon 5 em Salvador

Não é segredo, aliás, é uma opinião quase unânime entre os soteropolitanos, que Salvador é uma cidade carente de grandes shows internacionais. Se fizermos um rápido retrospecto dos últimos 10 anos, é possível contar poucos artistas internacionais de peso que pisaram por aqui, a constar pela minha memória, foram:Ben Harper (2007), Gloria Gaynor (2007), Alanis Morissete (2009), Beyonce (2010), Black YeadPeas (2010), Akon (2010), Jason Mraz (2011), James Blunt (2012), Pitbull (2012), David Guetta (vários anos),Ne-Yo (2014), Elton John (2014), The Waillers (2014), Kesha (2015) e agora Maroon 5 (2016).Foram 15 grandes shows em9 anos. Pode parecer muito, mas não é. Só a título de exemplo, Recife e Porto Alegre, cidades que Salvador não deve em nada, tiveram um número bem maior de shows internacionais do mesmo porte no mesmo período de tempo. Ainda, destes 15 shows citados, nada menos do que 9 foram no Festival de Verão, ou seja, apenas 6 ocorreram de forma isolada, não estando na grade de atrações de um grande festival nacional. A justificativa dos produtores culturais é sempre a mesma: falta na cidade uma grande e bem estruturada casa de shows que possa receber atrações de tamanha magnitude. E é verdade, falta mesmo.

Desta forma, devido à relativa escassez, é natural que ao ocorrer um evento desta magnitude na cidade, os ingressos se esgotem rapidamente. Ontem, com o show da banda norte-americana Maroon5, não foi diferente. 30 mil pessoas lotaram o espaço reservado no Parque de Exposições para acompanhar 1h30m de espetáculo de uma das maiores bandas do planeta na atualidade. De bônus, quem chegou cedo ainda pode acompanhar 30 minutos de show da também norte-americana banda Dashboard Confessional.

O SHOW:
Quem apostou no habitual atraso dos shows brasileiros, quebrou a cara. Os meninos da Maroon5 subiram ao palco pontualmente as 20 hrs, como anunciado previamente. E logo de cara iniciaram o show com o mais recente sucesso do grupo, a música “Animals”, que conta com quase 300 milhões de visualizações no YouTube. Foi o suficiente para a já animada plateia explodir de vez em euforia. Vale ressaltar que visivelmente a maioria do público era formado por adolescentes, de 14 a 18 anos, que provavelmente estavam indo pela 1ª vez em um grande show internacional. Não por acaso, eles foram os mais animados e empolgados durante todo o show.

Durante a apresentação, o líder da banda, Adam Levine, apostou numa fórmula que pareceu agradar ao público soteropolitano: falar pouco e cantar muito. Foram raras as vezes que ele conversou com o público, mas quando o fez, ensaiou o seu fraco português com o já tradicional “obrigado, Salvador”. E quando cantou, cantou acompanhado de um coro de milhares de vozes que sabiam todos os grandes sucessos da banda, como “Sugar”, “Moves Like Jagger”, “She Will Be Loved”, “Maps” e “ThisLove”. Aliás, essa foi outra estratégia do grupo que se mostrou acertada, priorizou os sucessos de toda a carreira e não só as músicas do novo álbum, o público agradeceu.

O fato é que em Salvador a banda demonstrou o porquê se firmou como uma das maiores do mundo. O que eu e o público vimos foi um excelente desempenho de um excelente grupo. Foi o tipo de evento que você paga caro pelo ingresso, fica receoso pelo alto valor pago, mas após o show vê que valeu cada centavo investido, uma experiência única que, certamente, não sairá da memória do público tão cedo.

E ah, merece destaque ainda o tecladista do grupo, PJ Morton, que em sua conta oficial no Instagram agradeceu ao público soteropolitano e ainda postou uma imagem aérea de Salvador, destacando a beleza da nossa querida cidade para os milhares de seguidores que o acompanham mundo á fora.

A (DES) ORGANIZAÇÃO:
Bom, se é bem verdade que não houve o que reclamar da Maroon5, o mesmo não se pode dizer da organização do evento. O som que vinha do palco estava em um volume abaixo do normal, quem estava mais ao fundo, na pista, ouvia a apresentação com certa dificuldade. O curioso é que, um amigo que foi ao mesmo show, um dia antes, em Belo Horizonte, já havia me relatado que lá houve esse mesmo problema. Outro grande defeito ficou por contada logística de bares. Foi uma das piores que eu já vi em uma grande festa. Pouquíssimos bares para muita gente. Como se isso já não fosse suficiente, antes mesmo do show começar, os bares já não dispunham de troco para os clientes. Se você tivesse uma nota de 20 reais e quisesse comprar 2 cervejas, no valor de 6 reais cada, totalizando 12 reais, dificilmente conseguiria efetuar a compra, pois não havia notas miúdas para dar os 8 reais de troco. A solução para isso era a mais simples possível e já tão habitual em várias festas: bastava colocar fichas a disposição dos consumidores, assim você poderia comprar várias bebidas de uma só vez, não necessitaria de troco, e diminuiria as filas nos bares. Mas não foi isso que ocorreu, durante toda a festa o serviço de vendas de bebidas foi PÉSSIMO, deixando muita gente revoltada e criando até princípios de tumultos e brigas que, felizmente, foram contidos e não vingaram. E que fique claro: os últimos culpados deste péssimo serviço foram os atendentes dos bares, ao contrário, estes se desdobraram para conseguir atender a todos, o que claramente não foi possível por questões que estavam além de seus alcances.

Por fim, a saída do show foi um verdadeiro INFERNO. Mais uma vez a organização do evento demonstrou não conhecer absolutamente nada da logística de grandes shows. Espaços pequenos e estreitos para evacuar 30 mil pessoas que, obviamente, não deu certo. Se durante o show não houve empurra-empurra e havia um espaço bacana para acompanha-lo sem ser incomodado, na saída tudo isso mudou. Houve empurrões, gritaria, vaias, impaciência e aperto. Uma verdadeira muvuca que lembrou o dia a dia dos passageiros de ônibus que enfrentam uma guerra para conseguir adentrar em determinadas linhas nos horários de pico.

Maroon 5 em Salvador – Crédito: Magali Moraes

Ainda, já fora do espaço, na Avenida Paralela, conseguir um ônibus ou um táxi era uma tarefa quase impossível. Eu, por exemplo, demorei mais de 1 hora para conseguir um táxi. Causou-me estranheza ver tamanha confusão e desorganização na saída do show por ter como referência o Festival de Verão, festa que ocorre no mesmo espaço e recebe, por dia, quase o dobro de pessoas (50 mil) que o show de Maroon5 recebeu (30 mil). Nunca vi nada parecido com a bagunça de ontem nos dias de Festival. O trânsito na Avenida era tão grande e tão congestionado que parecia uma segunda-feira as 18 hrs, impressionante!

No fim, apesar de tantos problemas, saí com a sensação de que valeu a pena. Foi um belíssimo show como poucas vezes Salvador pode ver. Fica a minha torcida para que eventos deste porte sejam cada vez mais comuns, que Salvador entre de vez na rota de grandes shows internacionais no Brasil e que a organização aprenda com tantos erros e possa melhorar consideravelmente. O público soteropolitano merece ser tratado com mais respeito.

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