O Corpo da Mulher – Foto Nil Caniné
O espetáculo busca ampliar o universo desta personagem, sua dor, seu isolamento em uma clínica, o ódio de si mesma, a revolta com o mundo, a impotência, mas entende que a vida é mais forte
Por Úrsula Neves
Duas mulheres se cruzam depois da Guerra da Bósnia, uma terapeuta norte-americana e uma jovem bósnia violentada. Ambas revelam suas histórias numa tentativa desesperada de encontrar forças para continuar suas trajetórias. Após duas bem-sucedidas temporadas – no Sesc Copacabana e no Teatro Poeira, O corpo da mulher como campo de batalha, de Matéi Visniec, reestreia dia 4 de novembro, no Teatro I do SESC Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O espetáculo retrata duas mulheres arrasadas, feridas, que tentam reconstruir a percepção sobre si mesmas e sobre o mundo.
Através de Kate (Ester Jablonski), uma psicoterapeuta americana que trabalha como voluntária, e Dorra (Fernanda Nobre), uma refugiada bósnia vítima de estupro, Visniec deflagra um grito sobre a condição da mulher durante a guerra, quando o estupro era a tática mais utilizada para humilhar e derrotar o inimigo de ambos os lados. A dramaturgia de Matéi Visniec, aliada à direção de Fernando Philbert, tem a potência de traduzir o ser humano ao trazer para a cena a questão da violência contra a mulher sem derrotismo, mas sob o ponto de vista da luta e resistência em todas as guerras, até mesmo as do dia-a-dia.
Retratos da guerra
“Este espetáculo fala objetivamente de uma jovem que foi uma entre as milhares de mulheres estupradas na guerra da Bósnia e que ficou grávida. Nasceram após a guerra mais de trezentos bebês, resultado de mais de duas mil mulheres grávidas devido aos estupros.
O espetáculo busca ampliar o universo desta personagem, sua dor, seu isolamento em uma clínica, o ódio de si mesma, a revolta com o mundo, a impotência, mas entende que a vida é mais forte e ela, a vida, vai voltando para a personagem, vai expulsando a dor e a revolta.
No contraponto a psicóloga que veio para Bósnia para trabalhar com as equipes que abrem as valas comuns aonde os corpos das vítimas de execuções em massa foram jogados. Ela também sofreu a violência da crueza dos fatos, da imagem descomunal de muitos corpos enterrados, e, não suportando mais, pede para ir trabalhar nesta clínica entre a Suíça e Alemanha que recebe algumas mulheres refugiadas da guerra. É lá que ela descobre que para ter um equilíbrio precisa interagir e buscar tirar do isolamento voluntário Dorra, a jovem refugiada.
Apesar de contar uma história dura e verdadeira, o espetáculo encontra caminho na força que a vida tem, na força que a vida exerce sobre cada um mesmo vivendo a pior das tragédias, pois lá fora tem gente e o dia segue, e, mesmo não acreditando que se possa contar tudo, que o tempo cure tudo, como diz a jovem violentada, o espetáculo se lança na força destas mulheres que sobreviveram e estão diante da vida.
Ficha Técnica Texto: Matéi Visniec Tradução Alexandre David Direção: Fernando Philbert Elenco: Ester Jablonski e Fernanda Nobre Iluminação: Vilmar Olos Cenário e Figurino: Natália Lana Trilha / Música Original: Tato Taborda Direção de Movimento: Marina Salomon Direção de Produção: Sergio Canizio Realização: Jablonsky Produções Artísticas Ltda
Assessoria de Imprensa: Lu Nabuco Assessoria em Comunicação