O menino que descobriu o vento
Filme mostra nas entrelinhas que somente a educação é capaz de fazer com que nossa humanidade evolua
Quem assistiu ao mais novo filme do catálogo da Netflix, “O Menino que descobriu o vento”, assegura: a história emociona e leva o espectador a refletir sobre o poder da educação para o desenvolvimento das humanidades.
Sim, a história real do menino William Kamkwamba, que ficou conhecido mundialmente por sua invenção e se formou engenheiro na Universidade de Dartmouth, uma ivy league americana, é uma das experiências mais emocionantes do ano até aqui. Acompanhar o desenvolvimento de sua jornada, desde quando era uma criança louca por saber, passando pelo drama de ser expulso da escola, por não poder mais pagar a anuidade, e por fim acompanhar a sua gana em conhecimento resultar em algo concreto que mudou a realidade de sua família e de sua vila, é algo de muito tocante e incentivador.
Não há uma só pessoa que não tenha percebido nas entrelinhas que “O Menino que descobriu o vento” é na verdade uma ode ao conhecimento, a educação como única forma de desenvolvimento humano.
Sim, há na sua casca uma abordagem racial, uma abordagem que trabalha um contexto histórico dos mais dramáticos nas últimas décadas, que é a crise ambiental e econômica de países africanos (e de outros continentes), mas no fim das contas nada é mais importante que a reflexão sobre educação que o filme carrega consigo a cada minuto.
Conheça a história de William
Nascido no Malauí, um dos países mais pobres da África, William Kamkwamba sempre acreditou num futuro diferente ao de seus familiares. Em 2001, quando tinha 13 anos, a região onde morava foi assolada por uma seca e a plantação de sua família acabou devastada. Sem poder pagar os oito dólares anuais por sua educação, William foi forçado a deixar a escola e a ajudar a família num momento em que milhares de pessoas pelo país morriam de fome. Apesar de todos os obstáculos, o adolescente encontrou numa pequena biblioteca próxima a sua casa o caminho para persistir em seus sonhos.
O testemunho do jovem autodidata que, com muita curiosidade e imaginação, conseguiu vencer as adversidades para melhorar a vida de todos a sua volta é o mote do livro O Menino que Descobriu o Vento, e do filme da Netflix.
O menino que descobriu o vento
Nele, William conta como descobriu pela leitura dos livros o funcionamento dos moinhos de vento. O menino decidiu apostar num projeto audacioso: construir um aparato para oferecer à família eletricidade e água encanada, luxos aos quais apenas 2% da população do Malauí têm acesso. Ao utilizar materiais improvisados, recolhidos em ferros-velhos, William conseguiu construir dois moinhos que mudariam sua vida por completo.
“Não podia aceitar aquele destino como futuro“, aponta o autor sobre o que o motivou a persistir na ideia por quatro anos. Logo, a notícia do magetsi a mphepo – seu “vento elétrico” – espalhou-se para além dos limites de sua casa, e o garoto, uma vez chamado de louco, tornou-se uma inspiração para o mundo. A partir daí, o feito de William ganhou o boca a boca e o jovem foi convidado para falar sobre sua experiência no TED Global (instituição não governamental especializada em dar espaço para divulgação de novas ideias).
“Mesmo sem poder frequentar a escola, ia com regularidade a uma biblioteca e, ainda que tivesse dificuldade para ler em inglês, conseguia compreender os livros por meio de imagens e diagramas. Dessa maneira, pude construir um circuito elétrico que seria o primeiro passo para o moinho“, explica William, que foi taxado de louco por amigos e parentes. “Respondia às pessoas dizendo que o moinho existia nos livros e que, portanto, era um sonho possível”, sentencia.
Um filme obrigatório.