Oasis
Primeiro álbum do grupo liderado pelos irmãos Gallaghers é recheado de hits e foi um dos mais vendidos da história da Inglaterra
Por Luis Fernando Pereira
A primeira vez que ouvi uma música do Oasis foi no longínquo ano de 1996, quase vinte anos atrás. Eu ainda era um projeto de adolescente, que não sabia muito sobre música, muito menos sobre a indústria musical. O contexto era muito diferente do atual: sem internet e redes sociais, sobravam as rádios, e as lojas de importados. Essa dupla de ferramentas foi a responsável pela primeira imersão ao mundo dos irmãos Gallaghers, sendo que através da rádio tive minha experiência inicial com a banda, ao escutar Champagne Supernova, já do segundo álbum do grupo.
Com a canção na cabeça, fui a uma dessas lojas de importados buscar mais informações, e lá o dono (um ex-roqueiro baiano bastante excêntrico que virou professor universitário) me disse que a tal banda era febre na Inglaterra, mas que ainda não havia chegado ao país (a banda só viria a ser conhecida meses depois quando explodiu Wonderwall). Mas ficou de me conseguir o primeiro álbum deles, chamado Definitely Maybe, e que naquele momento era o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Esperei até que um dia o cd chegou. Assim fui escutar pela primeira vez o álbum que considero o melhor da década de 1990, ou ao menos um dos três melhores, pois Nevermind, do Nirvana, é difícil de ser superado.
Enquanto ouvia as músicas, nascia certo fascínio pelos irmãos e pela sua música. Era tudo bem diferente do que estava acostumado a ouvir, e logo na primeira faixa, a explosiva Rock ‘N’ Roll Star, a banda me ganhou. Era um rock arrogante, pretensioso e convencido, mas que era acima de tudo genial. Liam representava exatamente o que todo jovem queria ser naquele momento: roqueiro, rico, famoso, que bebia todas, ficava com muitas garotas, xingava todo o mundo e ainda subia no palco e cantava para 60 mil pessoas. Sem saber cantar, pra falar a verdade. Quer mais?
As duas músicas seguintes foram durante um bom tempo as preferidas: Shakermaker e Live Forever; a primeira, uma delícia de canção que transportava todos para a década de sessenta, e que automaticamente nos faziam lembrar os Beatles; a segunda, um dos três maiores clássicos da banda, que resumia bem a essência do grupo inglês.
Oasis
Up in the Sky e Columbia já tinham mais influências do punk inglês dos anos 1970, outra marca do Oasis. Enquanto que muitos, já nesta época, associavam a banda aos Beatles, eu via o som dos Gallaghers muito mais próximo dos Sex Pistols que da banda de Liverpool. A atmosfera que rodeava a banda (bebidas, drogas, quebradeiras e boca suja) era quase a mesma do punk inglês e bem diferente da vivenciada pelos fab four, que eram muito mais comportados.
Canção seguinte, Supersonic, e aqui jaz o mais sensacional riff de guitarra da história da banda. A introdução da canção, com a bateria de Tony McCarroll e a guitarra de Paul Arthurs e Noel, é uma das que mais marcaram ao longo de todos estes últimos vinte anos.
Neste momento do álbum já havia virado fã, não importasse o que viesse dali pra frente. Por sorte, a música seguinte, Bring It on Down, e logo depois, a épica Cigarettes & Alcohol conseguiram elevar ainda mais a qualidade final de Definitely Maybe.
Já as quatro últimas canções do álbum davam indícios do que a banda se tornaria mais pra frente: uma mistura do punk rock e do pop, com ares grandiosos, e que acabaria se transformando no chamado britpop. Digsy’s Dinner, Slide Away, Married With Children e Sad Song apresentavam ao mundo o talento de Noel Gallagher, um dos melhores compositores que a Inglaterra produziu neste últimos 30 anos.
Definitely Maybe é um álbum essencial para se entender os anos 1990 e entender como foi o processo de abandono do grunge (que foi catapultado em 1994 com a morte de Kurt Cobain e com o sumiço de Eddie Vedder) e a sua substituição pelo britpop, que teve na briga envolvendo Oasis e Blur uma das mais marcantes situações da história da música.
Documentário oficial sobre o álbum Definitely Maybe
Luis Fernando Pereira é crítico cultural e editor/administrador do site