Planeta dos Macacos – A Guerra
Em “Planeta dos Macacos: A Guerra”, Matt Reeves põe fim a mais uma trilogia hollywoodiana com revisita ao clássico de Coppola sobre conflito do Vietnã
Por Adolfo Gomes
O fim da humanidade. Em outras palavras: o apocalipse. Mas para Matt Reeves essa derrocada do homem tem um acento laico, ambientalista. Sem disfarçar sua referência central (não seria exagero considerar quase um remake de “Apocalipse Now”/1979), o cineasta norte-americano encerra a prequela de “Planeta dos Macacos” encenando “A Guerra”, tal e qual Francis Ford Coppola fizera na sua conturbada imersão no conflito do Vietnã – a despeito do abismo conceitual entre as duas produções, é claro.
Trata-se de outra viagem ao “Coração das Trevas” (os fantasmas do rival de Cesar a assombrar sua vigília), porém, desta vez, à margem do niilismo multicultural de Joseph Conrad. O que impulsiona a jornada do filme é uma espécie de matriosca de códigos cinéfilos, que se sucedem até a exaustão – quem não os conhece, melhor…há de ser poupado. Afinal, se tudo se resume a empilhar referências e arquétipos cinematográficos, devemos reconhecer: Reeves é bastante frontal nesse procedimento. Rejeita por completo a metáfora ou quaisquer simbologias.
Na sua literalidade agressiva, ele mostra – e sublinha – da arquitetura dos campos de concentração à travessia do deserto, como se nada, a esta altura de saturação dos códigos audiovisuais, escapasse a uma mitologia implacavelmente reiterativa. E, por mais bem calculado e envolvente que seja este novo(?) “Planeta dos Macacos: A Guerra” (EUA, 2017), é inócuo o esforço em conferir um verniz metalinguístico a mais uma corriqueira peça de entretenimento. Nada contra o cinema-espetáculo; nem a refutar nas narrativas épicas de fundação que, na melhor medida, permanecem como reservas ancestrais da fabulação.
A questão, aqui, é outra: do que adianta retornar às origens, se nosso olhar não tem mais nada de puro? Reencontramos em cada plano geral do filme de Reeves, o crepúsculo de inúmeros westerns…Nas estratégias de guerra e túneis de fuga, “as grandes escapadas” de outrora. Ou mesmo, nas silhuetas ao pé da montanha, os peregrinos e desterrados de sempre. O Paraíso Perdido do grande cinema de aventura não existe mais. Já não nos é acessível. Pecamos demais nos últimos tempos.
Adolfo Gomes é cineclubista e crítico de cinema filiado à Abraccine. Curador de mostras e retrospectivas, entre as quais “Nicholas Philibert, a emoção do real”, “Bresson, olhos para o impossível” e “O Mito de Dom Sebastião no Cinema”. Coordenou as três edições do prêmio de estímulo a jovens críticos “Walter da Silveira”, promovido pela Diretoria de Audiovisual, da Fundação Cultural da Bahia.