Música

Paul McCartney e os muitos detalhes do maior show da história

Paul McCartney em Salvador – Foto de Breno Galtier/Divulgação

Paul McCartney: Ícone da cultura pop, gênio da música e uma das maiores personalidades do século, Paul se apresentou na capital baiana e fez até chover

Na última sexta-feira, dia 20 de outubro, a cidade de Salvador vivenciou um pouco daquele espirito que toda grande cidade possui quando recebe eventos gigantes, que movimentam toda uma cidade, e que apresentam algo que é global, que mexe com todos ao mesmo tempo. Pode ser um campeonato mundial de futebol, Jogos Olímpicos, uma Comic Con, ou um grande show de música. No nosso caso, foi um show, mais especificamente o do maior ícone da história do rock:

Com vocês, Sir Paul McCartney.

O início.

O que trouxe Paul a Salvador

A materialização deste sonho soteropolitando é resultado de uma combinação de dois fatores (predominantes), sendo que o primeiro foi essencial, e que podemos definir como a vontade que Paul McCartney possui em conhecer novos lugares. Não há muitos precedentes na música de mainstream (os maiores nomes). Paul não pensa duas vezes em decidir visitar cidades como Fortaleza, Salvador ou Porto Alegre. O U2, por exemplo, nunca tirou os pés do eixo Rio-SP. E para falar a verdade, os irlandeses não têm tirado os pés de São Paulo, quartel general da banda nas últimas turnês. Sem querer criticas Bono e companhia, mas é muito mais digno de aplausos o comportamento de Paul.

Paul McCartney em Salvador – Foto de Breno Galtier/Divulgação

Já o segundo fator foi a entrada do Governo do Estado da Bahia como patrocinador oficial do show.

Sabemos o quão difícil deve ser uma cidade que ainda engatinha no universo cosmopolita trazer grandes nomes para a cidade por conta própria, ou seja, com recursos vindos totalmente da iniciativa privada. Assim o Governo estadual teve que novamente intervir e investir numa apresentação que certamente – por um lado – trouxe milhares de turistas para a capital baiana e de certa forma movimentou um pouco a economia. Entretanto, será sempre válido o questionamento de pessoas que acreditam que essa não é uma função do Governo, ou seja, financiar um show internacional é algo inconcebível em um estado com tantas lacunas sociais.

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Mas enfim.

O antes da apresentação

Para quem não lembra, em 2014 a cidade viveu o primeiro grande show internacional ambientado na Arena Fonte Nova (a nova). Elton John levou milhares de pessoas para a área do centro da cidade e Salvador entrou novamente no mapa musical do Brasil. Porém naquela época Salvador possuía duas lacunas (olha  a palavra novamente) urbanas que fizeram toda a diferença na apresentação de Paul: O UBER, que não existia por estas bandas, e o metrô, que ainda era um sonho para os baianos (foi inaugurado meses depois).

É incrível como a cidade funcionou muito melhor desta vez e, mesmo com as falhas (a saída do show de Paul foi um tanto caótica inicialmente) a cidade passou no teste e se mostrou muito fluída. Tivemos alguns engarrafamentos e tudo o mais, porém todos chegaram bem em suas casas, e relativamente cedo. O transporte público eficiente é um ótimo chamariz para futuros grandes eventos na arena.

A parte relacionada à assessoria de imprensa funcionou perfeitamente, o que é até incomum em grandes apresentações. Eventos internacionais sempre contam com três perspectivas de trabalho que se relacionam com a imprensa: há a produção/comunicação do artista, há a produção/comunicação nacional e há a produção/comunicação local. E nesta pirâmide sempre sobra para a equipe e para a imprensa local. Porém desta vez nenhum jornalista/repórter/fotógrafo tem motivo para reclamar de nada: horários cumpridos, trabalho facilitado e principalmente, relação de respeito bem visível.

Paul McCartney em Salvador – Foto de Breno Galtier/Divulgação

A Arena e o público

A divisão da Arena seguiu o padrão internacional, e com isso vimos uma ‘praga’ que deveria já ter sido extinta em grandes turnês, mas que infelizmente ganha cada vez mais corpo: a tal da pista Premium. Já se foi a época que víamos pessoas (fãs de verdade) acampando por dias para poder ficar ali no gargarejo, recebendo o suor na cara, e vendo o seu ídolo máximo de perto, bem perto mesmo.

Hoje em dia, ao menos em grandes shows pop/rock, e com a criação da pista Premium, essa área acabou ficando restrita a quem tem condições de pagar 700, 800, 1000 reais. Era perceptível que muitos ali na frente do palco (a parte com maior simbolismo num show de rock) estavam naquele lugar somente para tirar fotos e encontrar colegas, e assim conversar sobre a vida, futebol, as esposas… Foram incontáveis as pessoas que passaram a maior parte do show de Paul bebendo cerveja, comendo pipoca, conversando e até mesmo respondendo mensagem nas redes sociais. Tudo isso enquanto o show acontecia.

Paul McCartney em Salvador – Foto de Breno Galtier/Divulgação

É basicamente a reprodução de um contexto que já vivemos nos cinemas da cidade, onde as pessoas vão para fazer tudo menos ver o filme, ou nos estádios de futebol, onde o público que tem condições de pagar ingressos caríssimos não tem aquela relação com o time que tinha as pessoas nos anos 1970, 1980 ou 1990.

Outros tempos (e muita nostalgia).

Por outro lado.

Claro que ali também tinha os maiores fãs de Paul. Muitos deles que suaram para pagar o ingresso mais caro, e alguns outros que tiveram a sorte e competência de serem ou terem ficado ricos. Essas pessoas fizeram o show ser ainda mais especial. E dizemos isto porque em um show de rock como o de Paul McCartney, o público é parte indispensável, é figura máxima, é o que mais importa. E o show do eterno beatle só foi inesquecível para todos porque seus fãs (os melhores fãs do mundo) o abraçaram em diversos momentos naquele dia 20 de outubro.

Paul McCartney em Salvador – Foto de Breno Galtier/Divulgação

Partimos então para o show.

O show

Claro que as partes especiais da noite já estavam definidas há bastante tempo, décadas, diria eu. Músicas como A hard day’s night (Beatles), Love me do (Beatles), Blackbird (Beatles), Eleanor Rigby (Beatles), Something (Beatles), Ob-la-di ob-la-da (Beatles), Let it be (Beatles), Live and let die (Wings), Hey Jude (Beatles),Yesterday (Beatles), Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) (Beatles) e Helter Skelter (Beatles) foram as mais festejadas e todos já sabiam disto.

Mas sempre tem a campeã.

Destas não há como negar que Hey Jude causou um impacto gigante no público e que fez todo e qualquer ser-humano ali na Arena cantar de modo catártico o refrão monossilábico mais famoso da história da música. Os cartazes com os dizeres de “na na na na” já virou tradição, chegando a ser algo bem clichê. Mas até que divertiu e deu um tom mais especial ao momento.

Something trouxe uma carga emocional marcante, e acredito que para muitos fãs dos Beatles, esta foi a canção mais inesquecível de um show já inesquecível. Plasticamente falando, a parte que deixou o público boquiaberto foi com toda certeza a icônica Live and Let Die, que transformou o palco do show em um vulcão cuspindo fogo a todo o momento. Nunca se viu uma cena daquelas em uma apresentação na cidade, e muitos irão ficar com esta passagem na memória, não tenho dúvidas. E olha que poderia ser ainda mais marcante, já que normalmente nesta canção há uma gigantesca queima de fogos. A estrutura do palco na Arena Fonte Nova inviabilizou os fogos, já que o palco ficava quase embaixo da cobertura, e haveria grandes chances de acontecer algum acidente ali caso houvesse explosões no ar.

Paul McCartney em Salvador – Foto de Breno Galtier/Divulgação

Reta final.

Momentos para recordar

Paul McCartney, como Bono, do U2, é um exímio artista, daqueles completos por essência. O beatle estudou Salvador, e por conta disso as suas interações foram inesquecíveis. Termos como “massa”, “Ave Maria”, e “ó pai, ó” deram um tom de exclusividade para os baianos. É a marca do show de Paul em Salvador, já que todo o resto da apresentação acaba sendo quase igual aos outros shows no mundo inteiro.

Indo para a parte mais física, o ‘rebolado’ que ele deu logo no início também foi de ficar na memória. O momento em que ele fala de direitos humanos, para introduzir uma de suas canções, foi perfeito para muitos ecoarem os cantos de “Fora Temer”. Ele deve ter percebido e logo mudou o rumo da ação. Ele também fingiu (ou não) estar surdo após as explosões finais de Live and Let Die. De fato, se para nós, que estávamos numa boa distância do palco, foi algo perturbador, imagina para ele.

Yasmin(m)
Por fim, tivemos uma parte de quase vergonha alheia. Uma menina subiu ao palco para dançar com Paul. Já estávamos no final, e a canção era Birthday. Pois bem, vocês sempre desconfiavam que essas interações de fãs e artistas não eram espontâneas, correto?

E realmente não são, ao menos em grande parte destas interações. A menina em questão, seu nome é Yasmin, ou algo assim, chegou a Arena (a área Premium) uns 30 minutos antes do show começar. De short curto e biquíni (acredito que era a única de biquíni, pois estava até meio frio o tempo) ela já chegou, chamou atenção e foi chamada por alguém da produção. Ainda não existia o cartaz tão famoso que ela carregava no show e que foi visto por milhares de pessoas ao menos em duas situações. Ela foi chamada, entrou em alguma área restrita, e pronto. Cerca de três horas após estava ela em cima do palco dançando com Paul, sem arriscar nenhuma frase da canção.

Será que era uma fã? Conhecia alguma música? Era uma modelo? Enfim, questões secundárias, pois os fãs de Paul nem se atentaram à sua presença naqueles 5 minutos de música. Esperaram ela sair e deram continuidade ao histórico show.

Paul McCartney em Salvador – Foto de Breno Galtier/Divulgação

No fim das contas estávamos mesmo era com inveja.

Pós-show

De pós-show ficaram algumas observações. Primeiro, que a área em torno da Arena Fonte Nova mais parecia estar vivendo o Carnaval. Lotada. Quem voltou de Metrô teve que esperar ao menos uns 30 minutos para entrar na estação, já que estava superlotada. Não dá para criticar muito, pois nenhum metrô no mundo teria condições de dar conta de milhares de pessoas de uma vez somente. Quem foi de UBER, e outros aplicativos, se deu bem. Pagou pouco, se comparado aos táxis. Mas os taxistas também se deram bem. E quem foi de carro também. E a prefeitura também disponibilizou ônibus.

Aparentemente toda a infraestrutura funcionou. Parabéns.

A chuva deu as caras algumas vezes, mas nada que tenha prejudicado a apresentação, muito pelo contrário, pois trouxe certa atmosfera de Liverpool (cidade que deu origem aos Beatles).

O show foi em Salvador, mas o público foi basicamente nordestino, com muitas participações de sulistas. Cerca de 5 mil pessoas (números não oficiais) vieram de outras cidades e estados.

Sobre o público baiano, uma diversidade. Nos lugares caros, a elite e os fãs de carteirinha de Paul. Nos lugares mais em contas, os fãs de Paul. E em alguns locais indefinidos, sortudos que ganharam ingressos. O Governo, por exemplo, distribuiu cerca de dois mil ingressos para professores e alunos da EJA (Educação de jovens e adultos).

Sortudos.

Paul McCartney em Salvador – Foto de Breno Galtier/Divulgação

The End.

E assim, depois de quase três horas de show, três horas de pré-show e quase 1 hora de pós-show, tivemos o final da experiência, épica, marcante, mágica, histórica, inesquecível, de ter visto, de ter estado no mesmo ambiente, que um dos maiores nomes da história contemporânea.

Só o futuro irá dizer o quão marcante foi a apresentação de Paul McCartney em Salvador. A tendência é que a memória afetiva faça deste show algo ainda mais grandioso com o passar dos dias, dos meses, dos anos…

É daqueles eventos que futuros pais contarão aos filhos, futuros avôs aos netos.

E o melhor de tudo isso foi ter visto dezenas, e centenas de netinhos (crianças e pré-adolescentes) vivenciando aquele momento, como um beatlemaníaco. É a prova viva de que os Beatles, e Paul McCartney nunca morrerão.

Serão eternos.

Galeria de fotos

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