Literatura

Pedro Bial, Na Moral e Malafaia

Na Moral com Pedro Bial

Desde a sua estreia em julho da segunda temporada do talk show que mais parece aula em turma de 8ª série do ensino fundamental, o “Na Moral”, sob o comando do jornalista e escritor Pedro Bial, ainda não disse para que veio. O programa lembra muito os programas para jovens no início dos anos 90: tudo dinâmico demais, alegórico demais, com vídeos demais e com um Bial patético demais. O que o Serginho Groisman já fez muito bem, antes de entrar na Globo, Bial consegue fazer pior.

Na época da estréia, Bial largou esse pensamento profundo, digno dos seus devaneios em noites de BBBosta: “O tema é controverso e o debate foi muito intenso e rico. Recebemos pessoas de posições e opiniões bem diferentes e é essa a proposta maior do Na Moral: discutir um assunto apresentando o máximos de pontos de vista diferentes sobre ele. Nunca deixei de apresentar o meu ponto de vista sobre os assuntos do programa e desta vez não será diferente”, disse. Só que o seu ponto de vista sempre está de acordo com os mandamentos da Globo: seja o mais rebuscado possível para aparentar inteligência!

Mas, desde que deixou o “Fantástico” e passou a aparecer na TV apenas como maestro de circo no “BBBosta”, Bial se tornou um alvo fácil para todo tipo de crítica. Como é que um jornalista com sua trajetória se resignava a permanecer na “casa mais vigiada do Brasil”, cercado por sarados dementes e popozudas oxenadas?  Em 2012 ele finalmente pôs a mão na massa e concretizou um novo programa. A primeira temporada de “Na Moral” foi ao ar há cerca de um ano, mas, até hoje mostra ser um programa fraco.

Na Moral com Pedro Bial – Tema Estado Laico

Na noite de ontem, 01/08, eu não sabia se aplaudia ou se chorava de raiva. Com a inacreditável participação do pastor Silas Malafaia, o programa trouxe o tema “Estado Laico” para o centro da roda de um debate muito tenso, que ainda contou com a participação de um padre que mal abriu a boca, um ateu com argumentos muito pertinentes e um babalorixá interessantíssimo. Porém, com a péssima apresentação do ancora do programa, mais uma vez não foi diferente do trivial: o pastor expôs (aos berros) as suas lamentáveis posições referentes ao tema, fugiu da discussão e, querendo chamar atenção para a sua figura na telinha, diz não aceitar a opinião dos outros.

Como de costume, Bial mais parecia um boneco de posto, pois quem protagonizou o showzinho foi o MALAfaia com embates fortes e sem argumentos com Daniel Sottomaior, presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA). Logo na introdução ao tema, Sottomaior falou muito bem a respeito de “banhos de sangue” causados pela religião ao longo dos anos, e disse que a separação do Estado e da religião se iniciou na Revolução Francesa. Em resposta, MALAfaia afirmou que os regimes políticos que optaram pela exclusão total da fé na sociedade, a exemplo da União Soviética e países asiáticos, é que protagonizaram alguns dos maiores genocídios da história da humanidade. Só isso?

Para completar, os cortes das discussões foram rápidos demais e sempre aconteciam quando algo convidado estava começando a esquentar o tema. Não, não tem nada a ver com os que “gostam de ver barracos”, mas sim analisar a reação dos envolvidos nas discussões, ver como eles se portam. A discussão acalorada e provocativa entre MALAfaia e Sottomaior se seguiu ao longo de todo o programa. Sottomaior afirmou que a Igreja Católica tinha ligação direta e patrocinava a escravidão no Brasil séculos atrás, fato que foi negado pelo representante católico, padre Jorjão, nos poucos momentos em que abriu a boca,

frisando que o cristianismo funciona como uma ferramenta de ética para o Estado laico. Só na cabeça dele mesmo! MALAfaia apoveitou pra dizer que “o Estado é laico, mas o povo não é laicista. O povo tem religião, e todos nós, defendemos nossas ideologias baseados em crenças e valores que temos, sejam elas filosóficas, de qualquer ideologia, ou religiosas”.

Pedro Bial

Mas o debate esquentou mesmo quando Sottomaior dava explicações sobre o aumento do número de evangélicos no país, onde atribuiu o acrescimento à “Teologia da Prosperidade”. “Você pega um sujeito que não tem nada e promete que ele vai ser rico. Quando você vê os evangélicos vendendo a sua fé, esse é o carro-chefe”, disse o ateu. MALAfaia reagiu na mesma hora: “Então quer dizer que todo evangélico é rico?! Se a gente vende riqueza e a Igreja Evangélica já tem 30/40 anos vendendo riqueza, então tem um bando de otários que continuam lá!”.

Mas a rapidez do programa é lamentável, enquanto o telespectador acostumado a risos planos e bundas na telinha tenta acompanhar os argumentos, pluft, passou para outro tema. Pouco tempo para se abordar algo tão pertinente de maneira realmente contundente e expressiva. Ainda mais quando se tem convidados tão relevantes. Talvez não seja culpa do Bial, afinal, ele não delimita o tempo. Mas, fato é que o apresentador o vende como um “debate final”, algo que realmente sairá da superficialidade geralmente vista. Infelizmente, não aconteceu nem ontem e nem nunca na história do “Na Moral”.

Num programa de 35 minutos, um resumo de duas horas de gravação, foi – e ainda está sendo – um dos mais comentados nas redes sociais no dia de hoje, chegando aos principais tópicos (top trends) do Twitter com a hastag #NaMoral.

O lamentável líder evangélico, como de costume, foi de uma arrogância deprimente, por exemplo, em um bate-papo com o babalorixá Ivanir sobre intolerância religiosa, para aparentar um discurso acalentador, não poupou os fiéis de sua religião. “Se um pastor invadir um centro de macumba, mete ele na cadeia!”, exclamou aos berros.

Na Moral com Pedro Bial – Programa com Silas Malafaia

Adorei a participação do babalorixá Ivanir, que mostrou-se ponderado, inteligente e preparado pra discussão, propondo, inclusive, uma participação do MALAfaia em uma caminhada contra a intolerância religiosa. Convite, esse, que ele saiu pela tangente. O ministro Ayres Britto, ex-presidente do STF, afirmou que o que faz do Brasil um Estado laico é ser “religiosamente leigo”: “O Estado não pode patrocinar, não pode favorecer, nenhuma seita, nenhuma confissão, nenhum culto religioso, embora ele assegure proteção aos crentes”.

Me soou bastante maquiadas as declarações de MALAfaia contra a intolerância e respeito às outras religiões. Coisa que todos sabem, passa bem loge dos discursos insanos para adestrar macacos para a sua igreja. Se foi apenas discurso para a Globo, eu não posso afirmar, porque não o conheço tão a fundo. Mas, admitir que um evangélico devesse ser preso por discriminar é algo que dificilmente veríamos em outro pastor. Repito, se é discurso ou não, me sinto incapacitado de afirmar. O grande problema do MALA, para mim, continua sendo seu descontrole emocional. Reparem que quando ele altera o tom de voz, geralmente o discurso despenca em qualidade e ponderação. Outro dia ele estava discursando sobre “cu” e “rola” nas suas pregações. Se eu falasse dessa forma dentro de uma sala de aula seria demitido na mesma hora! Mas a igrejinha é dele, ele fala como quiser!

Só para relembrar, no ano passado, o ator Pedro Cardoso falou abertamente sobre temas que poucos artistas têm a coragem de falar e deu pra ver a cara do desespero do Bial – confira aqui – mas que delícia poder falar sobre isso agora aqui no LC, é melhor terminar a conversa num ponto de interrogação CHUPA GLOBOSTA! E voltando ao programa de ontem, achei também que o padre Jorjão apenas serviu como representante da Igreja Católica, ou seja, um jarro decorativo. Não que ele não seja inteligente, pelo contrário, sua fala referente a Jesus como símbolo de Justiça foi bastante interessante. Mas, teve pouco destaque, provavelmente porque se manteve fora dos temas mais acalorados, deixando para o MALA responder (que era o principal ícone da chamada do programa). Então, não se espante se, de um dia para o outro, esse cara ganhar um programa no lugar da Ana Maria e do seu papagaio.

Em suma, eu acho a ideia e o formato do “Na Moral” razoáveis, mas é muita propaganda e alarde para pouco tempo no ar. Deu o que o programa de ontem? 30/40 minutos? Tire as propagandas, as músicas e as falas clichês do Bial e você tem um curto espaço de tempo para muita coisa que poderia ser dito. Essa é, sem dúvida, a grande crítica ao programa. E vocês, o que acharam?

Só acho que o MALA deveria gritar menos e usar argumentos mais coerentes. Esse homem é um hipócrita. Tenta fazer a crença dele descer goela abaixo por quem seja. A julgar pela tese que ele usou, as coisas que ele fala por aí afora já seriam suficientes pra que ele fosse alvo da própria alegação que ele deu esta noite.

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Cultural e possui o excelente blog Literatura Clandestina.

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