Livros
“Estes três livros, apesar de terem sido escritos em épocas completamente diferentes, tem muito em comum.”
Por Ana Cecília Amaral*
Todo escritor, antes de tudo, é um leitor ávido. E, como tal, tem outros escritores preferidos. O que acaba acontecendo é que esses escritores preferidos acabam sendo as nossas bases e as nossas inspirações para sermos escritores melhores. Eu me “descobri” escritora a partir da leitura de clássicos da literatura universal, como “O Apanhador no Campo de Centeio”, de Salinger, mas também com autores ainda desconhecidos, como o baiano Elenilson Nascimento e as suas “Memórias de um Herege Compulsivo” e “Clandestinos”, e também Stephen Chbosky, com as suas “As Vantagens de Ser Invisível”.
Esse três autores, majoritariamente, são pessoas que mais me inspiraram a escrever. Mas isso não quer dizer que eu os copie. Inspirar-se em algum escritor nunca é copiar seu trabalho. Inspirar-se é pegar um coisinha ali, ou outra coisinha acolá e só. É, às vezes, se inspirar numa característica que você gosta de um personagem, ou num pedacinho de uma storyline (exemplo: a personagem é princesa. Isso não quer dizer que a minha história seja igual à da Mia Thermopolis, nem à da Ana [*de “Simplesmente Ana”, da Marina Carvalho], pois o desenrolar é completamente diferente). Para deixar mais claro ainda: escritor de verdade CRIA e não RECICLA algo.
E essa costuma ser uma questão bem pessoal. Eu, por exemplo, opto pela escrita em primeira pessoa, pois me sinto mais à vontade escrevendo como se fosse a personagem principal falando. Mas existem certas dicas que podem ajudar a decidir, a exemplo do gênero e da proposta da história. Ação e suspense funcionam melhores, a meu ver, em terceira pessoa. Mas se é um romance (de amorzinho, mesmo), às vezes, o indicado é a primeira pessoa, para o leitor entrar na pele da personagem e sentir tudo o que ela sente. A primeira pessoa é ideal para criar um laço mais próximo com a personagem, enquanto a terceira pessoa é mais fria e mais distante, geralmente ótima para focar em coisas que não são os sentimentos.
“O motivo pelo qual Deus me escolheu para escrever é porque sou um louco que, por vezes, eu mesmo acho que não existo. Pertenço apenas ao meu mundo.” – Memórias de um Herege Compulsivo (Elenilson Nascimento – 2006)
“Há coisas que deviam ficar do jeito que estão. A gente devia poder enfiá-las num daqueles mostruários enormes de vidro e deixá-las em paz.” – O Apanhador do Campo de Centeio (J. D. Salinger, 1946)
“Apesar de me sentir muito triste, acho que o que realmente me aborrece é não entender o que aconteceu.” – As Vantagens de Ser Invisível (Stephen Chbosky, 1999)
Estes três livros, apesar de terem sido escritos em épocas completamente diferentes, tem muito em comum. E foi pensando nisso que o Programa Soterópolis (TVE-Bahia) resolveu fazer uma matéria especial sobre a perplexidade e o silêncio na literatura. #LiteraturaClandestina
* Ana Cecília Amaral é escritora, cineasta e editora visual.