Miriam de Salles Oliveira
Por Elenilson Nascimento
O ano mal começou e, mais uma vez, o setor cultural de Salvador está no centro das atenções. Dentre diversos problemas que já foram relatados em vários sites e blogs culturais, certamente, a falta de incentivo ainda é o ponto mais preocupante. Nos últimos anos, vários projetos foram inscritos na Lei Estadual de Incentivo à Cultura e Editais de cartas marcadas, porém, todos sem resultados. Além do baixo número de projetos de autores baianos do município que foram aprovados, a falta de incentivo por parte das empresas também é um fator que não pode ser ignorado.
Contudo, vários autores resolveram arregaçar as mangas e não esperar migalhas do governo para publicar seus livros. Assim como a “Cooperifa”, criada pelo poeta invocado, teimoso e demasiadamente agregador, Sérgio Vaz, na periferia de São Paulo, a escritora baiana Miriam de Salles Oliveira fundou a sua própria editora, a Pimenta Malagueta, para suprir essa falta de interesse das empresas em apoiar iniciativas literárias instigantes. Resultado: a primeira Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, com organização do escritor Elenilson Nascimento, já em fase de revisão e lançamento previsto para o mês de maio.
Miriam de Salles Oliveira
E, na última quarta-feira, 10/04, Miriam de Sales apresentou, no centenário Gabinete Português de Leitura, em Salvador – BA, no projeto Leituras Públicas, a terceira leitura pública de livros do ano, onde deu um show de conhecimento sobre uma Bahia que não existe mais, com destaque para as crônicas memorialistas O caruru e A mulher de roxo – textos que compõem o seu excelente livro homônimo A Bahia de Outrora (Pimenta Malagueta, 2010).
“Quando fui convidada para fazer uma leitura pública do meu livro ‘A Bahia de Outrora’, no Gabinete Português de Leitura, nem eu mesma pensava que fosse ter tanto público. Afinal, era um fim de tarde de quarta-feira, muitos ainda estavam trabalhando ou saindo do trabalho. Mas, o certo é que enchemos a sala com um público de primeira classe, atento e participante”, disse a escritora. “Fiel ao meu estilo, a cada texto lido havia uma interação com os ouvintes que traziam sua opinião, esclareciam dúvidas e tinham suas curiosidades satisfeitas”.
Miriam de Salles Oliveira
A escritora além de ter lido seus textos, interagiu competentemente com o público presente (*porque essa mulher não está dando aulas em uma faculdade?). E segundo a própria autora, esse livro já percorreu o mundo e está até na biblioteca da Harvey University:
“Os textos escolhidos despertaram muito interesse e ampla participação da plateia, composta por gente como o cônsul de Portugal, Sr. Manoel Lomba; o Dr. Geraldo Leite, presidente da Fundação que leva seu nome; Lúcia Carneiro, coordenadora da Divisão do Livro e Leitura da Fundação Pedro Calmon, membros da SUP, editores, poetas, cordelistas e escritores renomados, além dos membros da diretoria do Gabinete e o mais importante é que me encheu de emoção e felicidade. Gente que veio de longe, fieis leitores que chegaram de Santo Amaro, Cachoeira, Feira de Santana, Sergipe, Barra do São Francisco e Imbassaí. Senhoras de tradição como a irmã de do mestre Calá, Calazans Neto, de sempre lembrada memória e muitos outros amigos, cujos nomes moram na minha lembrança e no meu coração”, disse Miriam.
Miriam de Salles Oliveira
Além de tudo isso, ao final do evento, a desassossegada Miriam de Sales, como ela mesma disse, “escrevo para me desassossegar”, autografou vários livros: “Nesta oportunidade, agradeço a presença de todos e “last but not least”, louvar a importante iniciativa do Gabinete Português, casa de tradição e cultura há 150 anos, trazendo a público o que de mais relevante existe na Literatura Baiana de hoje. Outros autores virão abrilhantar novas leituras no decorrer deste ano”, finalizou.
Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Cultural e possui o excelente blog Literatura Clandestina.