Foto de Ana Camila
Um palco minimalista e um quarteto formado por Juliana Leite, Daniel Velloso (violão), Filipe Massumi (violoncelo) e Antenor Cardoso (percussão), experientes músicos atuantes em Salvador, compõem o projeto Villa Moraes, cuja apresentação ocorreu no dia 24 de janeiro no Ciranda Café (Rio Vermelho, Salvador). A ideia do show é homenagear Vinicius de Moares, no ano do seu centenário, apresentando versões que reúnem as influências dos músicos do projeto, bem como trazendo para os arranjos um interessante diálogo entre o violoncelo e o violão – importantes instrumentos na formação e obra de Villa Lobos.
A proposta em si é inusitada, e logo de cara revela uma sofisticação não somente do espetáculo em si, mas dos músicos que dele fazem parte. Conhecidos por seus projetos paralelos (Juliana Leite está na linha de frente do Bailinho de Quinta, Massumi é da Orquestra Neojibá e toca no Sertanília, Daniel Velloso é conhecido por seu trabalho com o violão de sete cordas e já dividiu o palco com inúmeros nomes da música, e Antenor toca em diversos projetos, com foco atualmente no trio instrumental retro_visor), os músicos que formam este quarteto apresentam um show bem dirigido em sua simplicidade, onde os detalhes e sutilezas criam um clima bastante agradável.
No repertório, pérolas como “Os Acrobatas”, “Tempo de Amor” e “Canto Triste”, além de adoráveis versões de “Canto de Iemanjá”, “Canto de Oxum” e “O Nosso Amor”. Munidos de um livro com a obra poética completa de Vinícius, o show intercalou as canções com poemas declamados por Juliana e Massumi, e o público era convidado a fazer o mesmo, apossando-se do microfone, o que gerou um clima de intimidade entre palco e plateia.
Foto de Ana Camila
Chama atenção o modo como o quarteto parece envolvido tanto com a concepção do projeto como entre si. A alternância dos vocais entre Juliana e Massumi funciona e agrada, bem como as intervenções de Daniel ao explicar a natureza do Villa Moraes, familiarizando o público com o repertório e esclarecendo a relação entre Vinícius de Moraes e Villa Lobos naquele projeto. O que poderia resultar em algo didático fica absolutamente agradável, com a ajuda da experiência que Juliana Leite mostra ter em um palco pequeno, minimalista, interagindo com o cenário, com os músicos e com o público, deslizando-se harmoniosamente pelo espaço do show. O trabalho de iluminação, inclusive, ajuda muito na harmonia construída no palco.
O Ciranda Café, ainda que aconchegante e charmoso, não mostrou ser o lugar ideal para o show. Não muito pelo “palco” – na verdade, um espaço no centro do salão onde os músicos se posicionam para tocar – mas pelo excesso de informação ao redor, para um show que exige um ambiente mais tranquilo. Por ser um restaurante, o movimento de garçons e clientes atrapalha um pouco a fruição do show, o que certamente seria evitado em um teatro, por exemplo. Inclusive, o Villa Moraes estreou no Teatro Gamboa no fim de 2013, onde possivelmente funcionou bem melhor.
Mas nada que impeça o público de desfrutar de um repertório gostoso, notoriamente escolhido a dedo, especialmente por permitir um clima mais espontâneo, como foi a participação do músico Babuca, que estava na plateia e foi convidado a cantar “Insensatez” quase de improviso. O Villa Moraes acontece mais uma vez no Ciranda Café, nesta sexta-feira, dia 31 de janeiro, às 22h.
Ana Camila é jornalista cultural, assessora de comunicação, produtora cultural e mestre em Cinema pela Universidade Federal da Bahia.