Literatura

Rachel Sheherazade é um alvo menor

Rachel Sheherazade na bancada do Jornal do SBT

 “O problema dessa controversa jornalista é a falta de pudor, não de inteligência; além da falta de responsabilidade e competência para avaliar a situação e o momento.”

Por Elenilson Nascimento

Todo mundo já está careca de saber sobre a nova polêmica que envolve uma das apresentadoras mais controversas de todos os tempos: Rachel Sheherazade, do SBT. A apresentadora, conhecida por dividir opiniões na internet e na TV, provocou discussões de ódio e amor (*mais ódio que amor, na verdade) ao fazer um infeliz comentário a favor do grupo de jovens que detiveram um suposto assaltante negro, o agrediram e o deixaram nu e preso com uma trava de bicicleta a um poste. O caso ocorreu no Flamengo, no Rio de Janeiro.

Agora, a situação está ficando ainda mais difícil para a jornalista. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro e a Comissão de Ética divulgaram uma nota de repúdio contra a “grave violação de direitos humanos e ao Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros” representada pelas declarações de Rachel no Jornal do SBT.  Contudo, a moça é uma mera testa-de-ferro, uma boneca de ventríloquo.

A verdadeira voz dos discursos diários pregando o ódio, a violência, o preconceito e a intolerância é a de Silvio Santos. Foi ele quem decidiu trazer a jornalista da TV Tambaú, afiliada de sua emissora na Paraíba, para o palanque nacional do Jornal do SBT. É o empresário quem a mantém intocada e lhe protege para que siga discursando no horário dito nobre. É Silvio quem a segura para que, ao noticiar a polêmica em torno de suas declarações, ela possa zombar de nossa cara e bravatear que não abrirá mão de seu “direito de liberdade de expressão”.

Para aqueles que não assistem telejornais, confira algumas das polêmicas da Sheherazade: no ano de 2011, na época apresentadora de uma filial do SBT na Paraíba, chamou a atenção de Silvio Santos ao criticar o Carnaval no país, dizendo que a festa estava ficando elitizada e era pra rico. Na época que o Papa Francisco esteve no Brasil, Rachel criticou os ateus ao afirmar em um comentário que “eles não sabem o que dizem” quando um grupo quis fazer “desbatismo” coletivo na chegada da maior autoridade da Igreja Católica.

Em 2012, ela concordou com Sarney quando disse que os ateus “não tinham o que fazer”, quando pediram para que a frase “Deus seja louvado” fosse retirada das cédulas de reais. Na ocasião, Rachel falou que os ateus são contra ensino religioso e cruzes em repartições públicas. É claro, se o estado é laico (como dizem), seria um pouco estranho colocar objetos de candomblé, umbandas e outras religiões em lugares onde quem dirige é o estado, não é mesmo?

Rachel Sheherazade

Em maio de 2013, uma nova polêmica: um grupo de funcionários do SBT, teria feito um abaixo-assinado dizendo que a âncora não os representava, segundo o jornal “Folha de São Paulo”. Ainda no ano passado, a jornalista foi advertida por executivos da Jequiti por ser a favor de testes cosméticos em animais. Um grupo de ativistas chegou a fazer um abaixo-assinado pedindo sua saída da emissora.

Agora, novamente, no olho da polêmica nas redes sociais após o comentário sobre um adolescente negro espancado e preso nu pelo pescoço a um poste, Sheherazade está sendo o motivo para uma petição judicial exigindo a sua demissão.

O problema no Brasil é que ninguém assume as suas próprias opiniões. Ninguém vai assumir, por exemplo, que defende os ricos sendo os pobres a grande maioria. Da mesma forma que os corruptos fazem discurso de serem contra a corrupção, mas continuam fazendo de tudo pra não perder seus privilégios. Apesar da jornalista, muitas vezes, perder o gancho nas suas críticas, a mulher se expressa tão bem que realmente tem que fazer com quem o Brasil acorde para o debate e desmascarar essa corrupção vergonhosa que incomodou até a Globo.

Contudo, acho demasiadamente desagradável a sua postura num telejornal e seus comentários carregados de preconceitos, elitismo e fundamentalismo religioso.  Direitos Humanos no Brasil só se levanta para defender bandido e menor infrator… Cadê os Direitos Humanos quando um cidadão precisa?

E quando escritores e jornalistas são vitimas de censura? O problema dessa controversa jornalista é a falta de pudor, não de inteligência; além da falta de responsabilidade e competência para avaliar a situação e o momento. Sem aparas na língua, o preconceito e a ignorância alimenta a fúria e hostilidade popular, dá o pontapé inicial para uma guerra social. Quem ganha com isso?

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Cultural e possui o excelente blog Literatura Clandestina.

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