Homem-Aranha no Aranhaverso
Dirigido por Bob Persichetti, Peter Ramsey, e Rodney Rothman. Roteirizado por Phil Lord, Christopher Miller, Rodney Rothman. Elenco de vozes originais: Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Steinfeld, Nicolas Cage, John Mulaney, Mahershala Ali, Liev Schreiber, Oscar Isaac, Chris Pine, Jorma Taccone, Zoë Kavitz, Kathryn Hahn, Brian Tyree Henry, Lily Tomlin, Lake Bell, Stan Lee
Devo confessar que estava bastante cética ao decidir ir para a sessão de imprensa de Homem-Aranha no Aranhaverso. Após tantos reboots, spin-offs e sequencias presenciadas ao longo dos anos sobre um dos personagens mais famosos da Marvel, questionei para mim mesma se ainda valia a pena reviver essa história e mesmo sem muitas expectativas decidi conferir. Para minha surpresa, valeu e muito!
Na trama, Miles (Moore) é um garoto que recém presencia a morte de Peter Parker, o Homem-Aranha, e em sua homenagem, compra uma fantasia em uma loja de seu bairro. Porém, em uma noite com o seu tio, ele acaba sendo picado por uma aranha radioativa e se torna o próprio super-herói que tanto admirava. Posteriormente, ele descobre que não é o único.
Os diretores trouxeram muita inovação na concepção do design de um desenho animado, ao trazer as texturas, planos e frames que se espelham ao de um quadrinho, projetado ao vivo e cheio de cores. Neste sentido, podemos encontrar as clássicas onomatopéias como “pow” e “bum” , além das narrativas e quebras da quarta parede, em uma constante conversa com seu espectador. A direção de fotografia, por sua vez, é bastante colorida, mas sempre presente em adjacentes tonalidades em relação às principais cores do herói-título: azul e vermelho. Assim sendo, vemos que a paleta se move em sua escala trazendo tons em laranja, amarelo, roxo, rosa, marsala, azul claro, ou seja, sempre em complemento com ambos tons primários mencionados e, por conseguinte, trazendo planos maravilhosos da estética que dá vida ao Homem-Aranha.
Interessante também é notar como cada personagem possui um mundo próprio, e a particularidade das características de cada design se mistura com o principal, como a coloração em preto e branco do submundo do crime, ou então o formato em 2D e, ainda, o anime. Neste contexto, há um forte desenvolvimento metalingüístico desse mundo animado, cujos personagens confessam e estão cientes que fazem parte dele. É o mesmo quando testemunhamos o protagonista Miles lendo a história em quadrinhos como se fosse um manual que o ajuda a identificar e a se adaptar aos novos poderes.
Aliás, com as novas facetas físicas vêm também as novas facetas psicológicas já que cada um pertence a um universo distinto. Em outras palavras, cada uma das versões do Homem-Aranha enfrenta ou já enfrentou dramas e as experiências parecidas que contribuem para ajudar o novato Miles da mesma forma. Além disso, como cada um desenvolve um talento diferente, é possível que cada um, na sua maneira, contribua e se ajude nos combates e cenas de ação.
Mas o que faz de Homem-Aranha no Aranhaverso um filme excepcional, é o fato de que ele mostra, em sua trama central, a história de um menino negro, filho de imigrantes e morador do bairro de Brooklyn em Nova York, inserido em um contexto de adolescência e exposto a um mundo de crimes. Não é à toa, pois, que a ocasião em que fora picado pela aranha fosse durante uma de suas fugidas de casa para sair à noite e pichar um muro com o tio, em uma atitude rebelde. A palavra “expectativas”, por sinal, também é uma palavra de peso e que gira em torno da dramaticidade da narrativa, no sentido em que Miles é confrontado com decisões que fazem parte do seu amadurecimento.
Acredito que o longa, em geral, se traduz no legado que o criador Stan Lee quis passar em toda a sua carreira, não somente para o personagem-título em si, mas para todo o Universo que ele mesmo concebeu. A mensagem é maravilhosa e simples: somos todos de alguma forma, um super-herói, não importa nossa raça, sexo, classe, etc – assim como consta no final do filme, uma de suas lendárias frases que encerra: “aquela pessoa que ajuda os outros simplesmente porque deve ser feito e porque é a coisa certa a fazer, é, de fato, sem dúvidas, um superherói verdadeiro”.
Homem-Aranha no Aranhaverso é um filme que merece ser visto repetidamente. É uma ótima forma de começar o ano de 2019.
Observação: Não saiam da sessão! Há cenas pós-créditos.