Pitty – Divulgação Sete Vidas
Quando a baiana Priscilla Novaes Leone, também conhecida como Pitty, foi incorporada ao showbizz nacional, já há algum tempo, o mercado fonográfico brasileiro era bem diferente e a indústria digital (mp3 e afins) ainda não era tão poderosa como hoje. Pois bem, Admirável Chip Novo, o álbum de estreia da roqueira, foi um grande sucesso comercial, catapultando a cantora como grande estrela da MTV (que estava no seu auge) e ícone de uma nova geração de adolescentes brasileiros. Pitty viveu intensamente essa fase (de transição) e, ao mesmo tempo, se preparou para todas as mudanças que a indústria musical iria passar a partir desta época.
Por conta disto, podemos afirmar tranquilamente que, hoje – meados de 2014 – a cantora baiana possui uma das carreiras mais sólidas da cena musical brasileira. Além de reverenciada pelos seus fãs, ela conquistou também a crítica especializada, se lançou num dos projetos mais interessantes dos últimos anos (o duo Agridoce) e agora acaba de tornar público seu mais novo álbum, o denso, intenso e, sobretudo, ótimo, Sete Vidas.
O novo trabalho de Pitty possui claramente uma carga emotiva bem forte, desde a primeira canção, Pouco (… sigo tentando sair do fundo, nado, não quero morrer…) e passando por todas as outras nove emblemáticas músicas de Sete Vidas. Esta atmosfera mais soturna do álbum também é consequência do processo de gravação do mesmo, já que o álbum foi gravado ao vivo, com os quatro músicos (Pitty, Duda, Martim e o novato Guilherme) em estúdio, tocando simultaneamente, proporcionando uma vibe bem mais crua que o normal. Além disto, as faixas passaram também pelas mãos do cultuado Tim Palmer, cara que simplesmente já trabalhou com o U2. A mixagem feita por ele, que segundo Pitty serviu para dar um toque elegante ao processo, conseguiu produzir um clima ‘rock pesado de adulto’ bem mais visível que os anteriores trabalhos dela.
Letras
As letras de Sete Vidas, todas de autoria da cantora, também refletem essa atmosfera que apresenta sem pudores alguém que passou por momentos bem difíceis no ano passado e que teve que lidar com a ideia de perda de uma forma bem dramática. E estas perdas foram várias, nas suas diversas nuances: Pitty perdeu seu grande amigo Peu Souza, falecido ano passado, perdeu também sua querida bichana, a gatinha que inclusive está ao seu lado nas fotos promocionais do álbum, e que morreu pouco depois da sessão de fotos, e também perdeu seu antigo baixista, Joe, esse por ter saído da banda, num processo complicado que se arrastou pela justiça.
Pitty – Foto de Fernando Leone
Com isto em mente fica bem mais fácil de entender Sete Vidas, não que seja necessário entender o álbum, pois a força das canções reside na poderosa junção das letras com os arranjos, misturados à enérgica voz da cantora. Mas mesmo assim é interessante perceber o sentido, não somente das palavras, mas dos títulos das canções. Em três dela há referências explícitas ao reino animal: a pesada Um Leão, o primeiro single Sete Vidas e a canção que fecha o novo trabalho, a sensacional e melhor canção do álbum, Serpente. Claro que há um jogo metafórico por trás destas canções, e essa perspectiva só reafirma o fato da baiana ser realmente uma – não somente talentosa – mas inteligente compositora.
Serpente
A canção, por sinal, soa num primeiro momento bem estranha ao resto do álbum, com o uso de coral (também utilizado na ótima Lado de Lá) e ritmada com agogô e caxixi. Mas o passar das audições tem a função de tornar a música familiar aos ouvidos dos fãs e também de apresentar uma Pitty que consegue dialogar com outros elementos musicais que não a guitarra, o baixo e a bateria. A música tem um potencial bem grandioso dentro do novo setlist da cantora e desde já a execução de Serpente é uma das coisas mais esperadas na nova sua turnê, iniciada há pouco na cidade de Americana, em São Paulo.
Após quatro longos anos Pitty voltou, melhor que nunca, mais madura, o que é normal, mais talentosa, e apresentando um trabalho que tem tudo para ficar na história como um dos álbuns mais queridos de sua discografia. Potencial para isso Sete Vidas possui.