Sharknado
Avaliar Sharknado sob uma perspectiva estritamente técnica chega a ser uma crueldade
A linha que separa um filme horrível de um filme lindamente horrível é bastante tênue e difícil de ser detectado num primeiro olhar. Entretanto, há casos em que bastam alguns minutos para se perceber que se trata ali de uma obra-prima – permitam-me usar este termo – do cinema ruim. Os primeiros minutos de Sharknado, a produção tosca do momento, já dão uma clara ideia dos rumos que o projeto traçou para a história: diálogos clichês, fáceis, bobos, história rápida, sem camadas, personagens simples, nem ignorantes, nem intelectuais… E tubarões voando! E assim, sem muitas pretensões, mas com ousadia de sobra, o filme foi conquistando fãs mundo afora, trazendo os tubarões de volta para Hollywood.
No filme, surge um grande tornado no litoral da Califórnia, sendo que o fenômeno natural começa no mar e interfere na vida de milhares de tubarões, que são sugados do oceano e arremessados – literalmente – por toda a cidade de Los Angeles. Acaba assim sobrando para Fin (Ian Ziering), sua ex-esposa April (Tara Reid) e mais um grupo de amigos a missão de enfrentar os tubarões e impedir que o tornado cause ainda mais estragos.
Vamos começar falando do elenco estelar do filme, composto principalmente por uma dupla das mais icônicas do mundo das ex-celebridades americanas: Ian Ziering, o eterno Steve da finada série Barrados no Baile, que desde então (anos 1990!) não fez nada que prestasse e a (ex) promissora nova princesa americana Tara Reid, que não se sabe o porquê, nunca vingou realmente no cinema jovem americano. E olha que já faz umas décadas que ela começou no mundo do cinema. Os dois, com suas atuações caricatas, extremamente preguiçosas e até vergonhosas, paradoxalmente, nos emocionam, além de ambos produzirem um sentimento de torcida pelos seus personagens. Não que seus personagens sejam bem construídos – definitivamente não são – mas o público quer prolongar ao máximo a experiência única de assistir algo tão toscamente esplêndido.
Sharknado
Se as atuações são ruins, o roteiro também é. Incrível como os rumos da história são inacreditáveis, de causar um espanto absurdo. Os diálogos simplistas, as situações convenientes e, sobretudo, os desfechos de algumas sequências chaves, são tão incompreensíveis, que você tem duas opções para escolher: desistir de assistir ou se jogar naquele mundo peculiar. Posso garantir que a segunda opção pode lhe trazer uma das melhores e mais estranhas sensações de prazer já vistas, pois ao comprar aquelas ideias contidas em Sharknado, você terá somente diversão pela frente.
Para não dizer que somente há defeitos no filme, a trilha sonora consegue cumprir bem seu papel. O filme, um projeto feito claramente para a garotada, é recheado de rock and roll, que agrada muito e ajuda na atmosfera criada.
E por último, a grande qualidade do filme consiste na ousada decisão de tirar os tubarões de sua zona de conforto. Sim, os queridos animais, que estavam acostumados a aterrorizar nossas vidas nos mares, agora partem para a cidade grande, as rodovias, definitivamente uma nova aventura para eles. Claro que a situação construída para fazer esta ideia vingar é das mais absurdas, mas o que seria do cinema se essas ideias absurdas não fossem produzidas? Por isso, por mais estranha que seja, a premissa que joga os tubarões para as ruas é das mais interessantes, curiosas e engraçadas.
Enfim, avaliar Sharknado sob uma perspectiva estritamente técnica chega a ser uma crueldade. O filme, uma experiência das mais divertidas, deve ser visto na companhia de amigos, numa grande sala (o filme foi feito para a televisão, nada de cinema), com cerveja, petiscos, e principalmente, vontade de se divertir. É por isso que o filme é deliciosamente ruim.