Música

Show intimista marca passagem de Badi Assad por Salvador

Badi Assad na Sala do Coro – Crédito: Aline Valadares

Um show em formato pocket, um palco pequeno, uma mulher, sua voz, seu corpo e seu violão. Pode parecer simplista e insuficiente para a maior parte dos artistas do mundo, mas para Badi Assad é o suficiente para apresentar um verdadeiro espetáculo. E foi assim o seu show no último sábado, 07/12, na Sala do Coro do TCA, encerrando a turnê do seu disco “Amor e Outras Manias Crônicas”, o primeiro completamente autoral de seus mais de vinte anos de carreira.

Provavelmente por questões econômicas, Badi Assad veio para Salvador sozinha, sem banda, cantar as canções do seu novo álbum, que são todas gravadas com uma banda e com tudo mais a que tem direito. Mas certamente este detalhe da solidão no palco tenha tornado o seu show ainda mais especial.

Badi Assad na Sala do Coro – Crédito: Aline Valadares

Com um domínio incrível sobre a força de sua voz, Badi passeia pelo palco com altivez e leveza, sempre agarrada ao seu violão, que muitas vezes trata como um parceiro de dança. Conhecida por sua habilidade em transformar seu próprio corpo em instrumento percussivo, a moça surpreendeu na plateia aqueles que nunca tiveram chance de conhecer sua obra.

Algumas estratégias foram usadas pela direção do show para conduzir de forma tão consistente o show de Badi Assadi em formato tão compacto. Em primeiro lugar, o talento que a artista tem para atrair os olhares do público, seja pela sua figura tão confortavelmente sentada em um banquinho alto, seja pela forma tão natural com que faz brotar um universo de sons do seu violão, ou ainda pela habilidade de contar histórias sobre as suas canções antes de executá-las, envolvendo ainda mais o público. Badi é aquele caso raro em que detectamos um artista que se apresenta com todo o corpo, ainda que esteja parada e sentada. O modo como o movimento de suas pernas acompanhava os desenlaces dos acordes esbanjava personalidade e autonomia criativa, bem como o modo suave com o qual desfila de um lado para outro do palco, e terminava sentada no chão, sempre leve, sempre doce.

Ao fundo, projeções de imagens em P&B, que completavam a composição de luz do palco, ao lado de um cenário simples, com faixas de tecido branco por entre as quais ela deslizava uma ou outra vez. Apaixonada pela filha, Sofia, que estava presente no show, Badi fez questão de falar inúmeras vezes sobre como a maternidade mudou sua forma de compor, criando um clima de intimidade com a plateia, que o recebeu bem. Desenhos que Sofia fez no celular da mãe também fizeram parte das projeções do show, enquanto ela cantava um par de músicas que farão parte do seu projeto “Badi para menores”, como chamou informalmente.

Badi Assad na Sala do Coro – Crédito: Aline Valadares

O improviso, outra das suas características mais marcantes, permeou toda a apresentação, que foi encerrada com um número inspirado no nome de sua filha, convertendo-se em cerca de três minutos de incríveis sons produzidos com a boca e as mãos pelo corpo. Contemplada com tantos e tantos prêmios de diversas naturezas ao redor do mundo, Badi Assad mostrou, em um show de cerca de uma hora e meia, o que a faz ser uma das maiores artistas brasileiras vivas, e como consegue se reinventar depois de vinte anos com um trabalho fresquinho completamente autoral.

A boa notícia é que a moça está sempre pelas bandas da Bahia. Em 2011 esteve em turnê com o espetáculo de dança “A quem possa interessar”, do Balé do Teatro Castro Alves, e revelou que essa parceria continua. Que bons ventos a tragam de volta muito em breve!

Ana Camila é jornalista cultural, assessora de comunicação, produtora cultural e mestre em Cinema pela Universidade Federal da Bahia.

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