Música

Sobre Abdução e Abraçaço: show de Caetano Veloso

Cetano Veloso

Especial Caetano Veloso no Cabine Cultural – Sobre Abdução e Abraçaço – Parte II

Um jovem senhor de setenta anos e seu trio de músicos, um público vibrante,  uma noite carioca, canções de ontem e de hoje, um circo voador. Fechando a pequena temporada que iniciou na quinta-feira, Caetano Veloso encerra o domingo com seu Abraçaço e ao longo de quase duas horas leva a plateia a uma viagem afetiva e festiva, combinando composições clássicas de seu repertório com aquelas saídas do forno, recém inauguradas no novo trabalho. À vontade no palco, inquieto e dançante como suas letras e melodias, vai costurando uma caleidoscópica malha musical onde há lugar também para momentos mais serenos e reflexivos, sendo que desta vez o cantor abdica do momento solitário no palco, o tradicional voz e violão e mantém a banda coesa e acesa ao longo de todo o espetáculo.

Cetano Veloso

A onda mais branda, mas não menos densa tem uma marcante representação em “Estou Triste” e “Um Comunista”, a primeira um retrato melancólico de tom depressivo e a segunda uma biográfica homenagem a Carlos Marighella, o líder político baiano assassinado pela ditadura militar em 1969. Ambas fazem parte do novo disco e são confessionais, sendo que uma mais introspectiva e a outra mais discursiva. Há espaço também para “Reconvexo” que Caetano Veloso uma vez disse que nasceu da observação de automóveis cheios de areia em Roma e que lhe informaram que eram do deserto do Saara. “Um Índio” une na mesma canção e na mesma rima Peri, Bruce Lee e Muhammad Ali em feliz achado poético, para orgulho declarado do autor e dando o toque de protesto ao show pois dias antes índios foram expulsos de um museu onde estavam instalados no Rio.

Cetano Veloso

Brilham também “A Luz de Tieta” e até um eclipse, o “Eclipse Oculto”,  sucesso antigo em roupagem mais rock’n roll do que nunca.  Para fechar Caetano Veloso ainda trás “Você Não Entende Nada” que ficou célebre na interpretação registrada em show gravado ao vivo em 1972 na Concha Acústica que por sinal vai receber Abraçaço em apresentação única no próximo dia 17 de maio. O espetáculo termina, as luzes se acendem e somos devolvidos a realidade cotidiana, ou melhor, retornamos da abdução coletiva.

Primeira parte do especial Caetano Veloso aqui

Josival Nunes é escritor, cineasta e colaborador do Cabine Cultural

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