Projeto do novo Complexo do TCA
O Cabine Cultural esteve no TCA para conhecer melhor o complexo cultural e as novidades. Confira!
Por Pedro Del Mar
02 de Julho de 1958. Foi neste dia, há 58 anos, em plenos festejos comemorativos da Independência do Estado, que Antônio Balbino, então Governador da Bahia, anunciava que as obras do Teatro Castro Alves estavam concluídas. Na ocasião, anunciou também a sua inauguração dentro de 2 semanas, no dia 14. No entanto, 5 dias antes da inauguração prevista, o Teatro foi tomado por um grande incêndio de, até hoje, causas desconhecidas. Um duro golpe na classe artística local que há muito pleiteava um equipamento cultural deste porte.
Foi somente 9 anos mais tarde, em 4 de Março de 1967, que o Teatro pode, finalmente, ser inaugurado. Nestes 49 anos de história, o Teatro Castro Alves foi a casa de milhares de apresentações históricas da música, artes cênicas e visuais. Difícil achar algum grande artista brasileiro que não tenha pisado no palco do TCA.
Vista aérea do TCA – Foto: Manu Dias/AGECOM
Mas o que pouca gente sabe – e isso é uma pena – é que o Castro Alves se consolidou como um dos mais importantes complexos culturais da América Latina. Sim, complexo cultural. O TCA, há muito, deixou de ser apenas um teatro e passou a abrigar uma impressionante estrutura, física e humana, que acolhe, produz e cria um amplo leque de artes e entretenimento. E o que já era bom, ficou ainda melhor. O teatro acaba de concluir importantes reformas, além de outras em andamento, e se requalificou em vários quesitos. Vale lembrar, ainda, que recentemente o TCA foi tombado pelo IPHAN como patrimônio arquitetônico moderno do Brasil. Além do Castro Alves, só o Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, possui este título.
O Cabine Cultural esteve no TCA para conhecer melhor o complexo cultural e as novidades. Confira!
– Complexo Cultural Público:
O Teatro Castro Alves é um equipamento público, gerido pela Secretária de Cultura do Governo do Estado da Bahia. Como tal, a direção do espaço tem como visão norteadora a fomentação da diversidade cultural e a democratização dos bens culturais. Teatro, circo, dança, moda, música, cursos, debates, oficinas, exposições. Tudo cabe no maior instrumento cultural da Bahia.
Segundo Moacyr Gramacho, diretor geral do TCA, e Rose Lima, diretora artística, apesar dos fortes contingenciamentos financeiros que atingem o Teatro e toda gestão pública de cultura, e as dificuldades que advém daí, é possível fazer um equipamento público de qualidade. Para Moacyr, a diferença fundamental entre gerir um espaço público e um privado, na seara de cultura e entretenimento, é a adequação do equipamento a diretrizes de políticas públicas e o não imediatismo, comum na indústria privada, que busca sempre o lucro rápido. Isso possibilita que se construa, com qualidade, um leque de atividades culturais que abarcam desde grandes espetáculos de artistas nacionais e internacionais até pequenas apresentações de artistas locais.
Para dar forma a tudo isso, o Complexo TCA conta com 350 funcionários fixos envolvidos nas mais diversas áreas da produção, criação, apoio e manutenção destas atividades e do espaço.
– Nova Concha Acústica:
Nova Concha Acústica – Foto: Maiana Belo/G1 Bahia)
A concha acústica do TCA, um dos espaços mais queridos do público baiano, que em sua primeira apresentação recebeu Dorival Caymmi e a Orquestra Sinfônica da UFBA, em 04 de Abril de 1959 (a concha não foi afetada pelo incêndio de 1958), foi fechada ao final de 2013 para dar início a um processo de reformulação física que durou pouco mais de 2 anos. A reforma foi a primeira etapa do projeto “Novo TCA”, que irá reformar também a Sala do Coro (em andamento) e a Sala Principal do Complexo. Em Maio de 2016, o espaço foi reaberto com uma série de novidades. Com um custo estimado em R$ 90 milhões, a nova Concha trouxe novas instalações, cobertura do palco, passarela técnica, novos camarins (3 individuais e 2 coletivos), novos camarotes (antes restritos a convidados e autoridades, agora abertos ao público), ecotelhado (ameniza o calor e promove economia de energia), novas bilheterias, corredor especifico para carga e descarga de equipamentos e novas arquibancadas. Anteriormente com uma capacidade para 5,600 espectadores, a nova concha agora acomoda 5,000 pessoas. A redução, segundo Mauricio Serra, responsável pelo espaço, se deu por questões de segurança. Além do palco principal, a nova concha agora conta com um espaço ao ar livre de 2.600 metros que também poderá receber eventos, como exposições e feiras. O espaço também ganhou um amplo estacionamento com 300 vagas.
– Centro Técnico:
Centro Técnico do TCA – Foto: Divulgação/TCA
O Complexo do TCA busca ao máximo fazer jus ao nome e dar vida a um verdadeiro complexo artístico. Como parte dessa lógica, o TCA criou, em 1993, um amplo espaço designado a produção e armazenamento dos seus próprios materiais, como figurinos, cenários e equipamentos técnicos. A ideia é ser o mais auto-suficiente possível. Além de produzir estes adereços para as suas próprias produções, o Centro Técnico presta apoio e cede quase todos esses materiais a toda comunidade artística externa, emprestando figurinos, salas para ensaios e fornecendo serviços de assessorias. Atualmente, o Centro Técnico presta apoio para o cinema, entre curtas e longas, para a TV, para faculdades de moda e artes cênicas e para artistas locais. O local possui um acervo de mais de 7.000 (sete mil) peças de figurino. O mais antigo remete a montagem de Otello, ópera do compositor italiano Giuseppe Verdi, composta em 1887, e encenada no TCA há mais de 30 anos.
– Sala Principal:
Sala Principal do TCA – Foto: Divulgação/TCA
A sala principal do TCA é um dos espaços mais místicos da Bahia. Palco de espetáculos memoráveis nas ultimas 5 décadas, a sala comporta 1.554 espectadores e conta com uma estrutura bastante confortável e com uma excelente estrutura acústica. O palco tem boca de cena de 9 metros de altura por 16 de largura e fosso para orquestra com capacidade para 80 músicos. Segundo o diretor geral do Teatro, Moacyr Gramacho, o palco está entre os 10 maiores da América Latina e é uma referência nacional. Já os bastidores são equipados com 14 camarins e uma sala de camareira. A sala principal também será beneficiada com os planos de reformas do projeto “Novo TCA”, integrando a 3ª fase.
– Sala do Coro:
Sala do Coro – Foto: Divulgação/TCA
A sala do coro é um espaço semelhante a sala principal, porém, destinada a produções mais acanhadas. Criada em 1995, o espaço abriga montagens intimistas, experimentais e de pequeno porte na música, teatro e dança. Com capacidade para 197 pessoas, a Sala do Coro possui uma estrutura moderna com palco de 13,85 metros de largura por 4,20 de altura, três camarins e um foyer equipado com serviço de bar para os espectadores. É comumente utilizada por artistas locais.
– Salas de Ensaio:
O Complexo do TCA possui 2 sofisticadas salas de ensaios abertas a toda comunidade artística. A solicitação de pauta pode ser feita através de um formulário e entregue no setor do Núcleo de Produção (TCA) com, no mínimo,30 dias de antecedência. A Sala Cia de Teatro, localizada no piso A – Ala A tem 211,86 m² de área, possui piso de madeira e uma capacidade de até 30 pessoas. Já a Sala Polivalente está localizada no piso A – Ala B tem 244,17 m² de área e capacidade de até 30 pessoas.
– Foyer:
Foyer – Foto: Divulgação/Adenor Godim
*¹ Com 688 m², o Foyer é o Portal de entrada da Sala Principal do Teatro Castro Alves. O ambiente abriga eventos como exposições, solenidades e apresentações de música de câmara. Para atender o público o espaço é equipado com mobiliário, bar, toalete e um mini-jardim de inverno com escadaria que dá acesso ao Jardim Suspenso.
O grande destaque do Foyer é um painel concebido pelo artista plástico Carybé, instalado no local durante a reinauguração do TCA em 1993. O título da obra é “Episódios da História da Bahia” e retrata, na visão do artista, a fundação da cidade do Salvador. O painel é uma das maiores obras de Carybé, com 17,50 x 3,50 m e foi composto com materiais como pedra, pedra sabão, madeira, cimento e cerâmica.
Além de toda essa diversidade de espaços, o Complexo do Teatro Castro Alves abriga ainda uma série de projetos, com destaques para a Orquestra Sinfônica da Bahia, o Balé do TCA e a Orquestra Juvenil da Bahia, a Neojibá.
Com tantas opções e uma estrutura impressionante, o TCA é uma verdadeira “cidade” das artes encrostada no coração de Salvador. E, como nunca é demais lembrar, é um equipamento PÚBLICO, de uso de todos os brasileiros, um verdadeiro patrimônio que às vésperas de completar 50 anos continua evoluindo e contribuindo para a fecunda produção cultural da Bahia, do Brasil e da América Latina.
Quer conhecer de perto toda essa estrutura? Quer saber a agenda dos próximos eventos no TCA? Se interessou por algum projeto? Acesse: http://www.tca.ba.gov.br/
*¹ informações retiradas do site www.tca.ba.gov.br
Pedro Del Mar baiano, 25 anos, repórter e colunista. Um curioso nato que procura enxergar o mundo sem as velhas e arranhadas lentes do estabilshment. Acredita que para todo padrão comportamental há interessantes exceções que podem render boas histórias.