Clube da Luta
Filosofia: Lista marcante contém algumas séries e filmes que são verdadeiras obras-primas do saber e nos ajudam a entender o pensamento filosófico e crítico
O dia do filósofo já passou, é comemorado no dia 16 de agosto, mas como a maioria das profissões, merece elogios e lembranças todos os dias do ano. O filósofo, através da história, foi sendo caracterizado por ser aquela pessoa que se expressa através de argumentos lógicos, claros ou críticos. Enfim, há uma subjetividade por trás desse termo, mas em todos os casos podemos afirmar: a filosofia é a busca pelo saber, pelo conhecimento.
E pensando nisso resolvemos listar aqui séries e filmes que trabalham som esta perspectiva. Tem muita produção boa, relevante, que serve tanto para entretenimento quanto para algo mais aprofundado.
Filmes
Lucy
“Lucy” é um desses filmes que merece uma discussão. Não é um filme comum, mesmo com alguns diálogos expositivos que auxiliam na interpretação, mas a sequência final de imagens sem falas e algumas brincadeiras visuais não é tão óbvia para o público médio de cinema, e chega até a lembrar “Árvore da Vida” de Terrence Malick (*mas com menos filosófica). A discussão que Besson introduz é muito interessante: ora, na questão da barbaridade, mas não acho que seja uma defesa da ideologia de partidos políticos, pois não faz sentido; ora, na questão de que a humanidade não está pronta para enfrentar a noção do todo que acontece ao seu redor, ao contrário do que o professor Morgan afirma.
A Índia, por exemplo, acabou de eleger um governo liberal em economia e conservador em questões religiosas; o governo chinês é muito liberal em algumas questões econômicas, mas restringe gastos sociais; e em alguns outros lugares o sistema político é bem mais restrito que o da Rússia, para não falarmos em Índia, Brasil e África do Sul, três democracias imperfeitas e problemáticas, sem plena liberdade de expressão, mas muito mais livres nesse último quesito que a Rússia.
O que o diretor parece enfatizar ainda é a mais pura e simples ignorância humana ao sugerir que os BRICS formam um bloco contra os “polos dominantes do sistema-mundo. Tudo bem, sabemos que existe uma corrente de neurocientistas que afirmam que este papo de que a gente só usa 10% do nosso cérebro é uma balela (*Raul Seixas também já disse isso!), um mito criado e fomentado pela indústria da autoajuda (“ah, você pode ser melhor, mais criativo, mais bem-sucedido”), devidamente desmentido pelos caras do Mythbusters, inclusive. Mas isso é um filme, vá e assista. E, dentro da ideia da película, a história toda funciona amarradinha e competente. Deixemos a discussão real de lado por um momento e vamos curtir a pseudo-ciência da cultura pop.
Clube da Luta
Em determinada cena do filme Clube da Luta, o anônimo personagem interpretado por Edward Norton, vê imagens publicitárias de modelos masculinos vestindo apenas roupas de baixo e indaga Tyler Durden, personagem vivido por Brad Pitt, se é aquilo a representação do “ser um homem”. A réplica: “Auto-desenvolvimento é masturbação. Agora, a auto-destruição…” e a resposta é deixada no vazio, acompanhada por um riso irônico de Durden e por um olhar de percepção (quase um insight) por parte do anônimo Norton. O riso irônico de Tyler Durden é a representação do domínio do conhecimento; sua consciência de que a sabedoria é mais importante que seu corpo. Em outro momento do filme, Tyler brada que “apenas após perder tudo, é que você estará livre para fazer o que quiser. Nada é estático. Tudo está desmoronando. Esta é a sua vida. E ela está terminando um minuto por vez”.
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Com tal frase, ele confirma a certeza de que, sim, ele sabe do que está falando. Ele reconhece o caminho que a sociedade consumista e capitalista está seguindo. Seja no culto ao corpo perfeito ou na dedicação do preenchimento do vazio da vida com objetos comprados no shopping, ele sabe para qual buraco fétido a sociedade caminha. Mas, o mais importante, é que ele está fazendo o que pode (e ele pode muito!) para resolver tal situação. “Apenas após perder tudo e estar em equilíbrio consigo, é que você estará livre para fazer o que quiser” complementa enquanto exibe a mão queimada e cicatrizada por lixívia.
O anônimo Norton é a representação do modo de agir e pensar da atual sociedade capitalista. Fechada num mundo particular de consumismo e falsa segurança, ela é habitada em cada um de seus componentes por Tylers escondidos e loucos para sair. Aproxima-se do conceito platônico de conhecimento intimo na maiêutica: o conhecimento habita cada um, basta percebê-lo. Zenão de Cítio traz em sua doutrina o equilíbrio humano separando o corpo da razão. É como se Tyler representasse a figura de Zenão no século XXI: alguém ciente da necessidade de perder as amarras que o prendem ao mundo no sentido de alcançar o foco de sua própria sapiência.
Laranja Mecânica, um dos maiores clássicos do cinema
Laranja Mecânica
Como pensar uma sociedade sem que todos os homens sejam dotados de liberdade e respondam por seus atos? Uma das obras-primas de Stanley Kubrick se sustenta em questões como esta. Alex é um jovem rebelde, extremamente violento e alheio à regras sociais. Porém, depois que ele mata uma senhora, ele vai preso e lá recebe um tratamento inovador: ele passaria a ser condicionado a não fazer o mal. Sempre que pensasse em praticar um ato que afronte o status quo, ele sofreria espasmos de dor que o forçaria a não fazer.
Assim, Laranja Mecânica entra para a história do cinema ao trabalhar uma das questões morais mais importantes: o que é o ser humano sem o livre arbítrio? Se não podemos escolher como agir, como podemos nos considerar seres livres, na acepção mais profunda da palavra? Uma ótima ferramenta para se pensar este tema.
Quem somos nós?
Basicamente, essa é a premissa deste belo documentário: uma discussão sobre quem somos, de onde viemos, para onde vamos, o que há além de nós, no universo. Uma vasta discussão sobre questões pertinentes ao conhecimento humano, física quântica e sobre as nossas verdades.
Sabemos que a ética e a moral podem ser vistas dentro de uma perspectiva coletiva (regras sociais, leis…), e também dentro de uma perspectiva individual (que tipo de princípio me acompanha nas minhas atitudes). Essa ética mais interna, de buscar entender quem somos, ou o que nos leva a agir de determinada maneira, é o ponto de partida do documentário, um dos mais interessantes já produzidos. Um documentário denso, intrigante e que foi tema de um ótimo texto publicado aqui no site. Só clicar aqui e conhecer mais do documentário e de sua temática
O Mundo de Sofia
O filme, que é baseado em um dos mais famosos livros sobre a filosofia, é um prato cheio para se entender questões filosóficas, incluindo aí ótimas conversas sobre ética e moral. Sofia Amudsen, personagem central do filme, é uma jovem estudante que vê a sua vida mudar completamente por conta de cartas anônimas com as mais diversas questões existenciais: quem é você? De onde você vem? Como começou o mundo? A partir daí, a jovem viaja através da história da filosofia, conhecendo os grandes filósofos e seus pensamentos.
Neste sentido, conhecemos os conceitos de ética de Aristóteles e de vários outros grandes filósofos da história ocidental. Um prato cheio para quem gosta do tema.
Séries
Merli
Merlí
A filosofia entra de modo direto quando o professor de filosofia do ensino médio Merlí (Francesc Orella) consegue emprego na escola que seu filho estuda. Sua vida está desmoronando, mas ele tem uma personalidade que impede que estes fatos (estar divorciado, ter relação instável com filho adolescente e ser despejado de casa por falta de pagamento de aluguel) o leve para o buraco.
Merlí consegue rir de seus problemas, e não por sadomasoquismo, mas sim por questões racionais, afinal de contas, chorar vai adiantar de que? Nestes primeiros momentos da série já vemos como a filosofia o guia.
O primeiro episódio contextualiza toda a trama. Estamos diante de uma Malhação (daquela época inicial) muito mais densa e elaborada em termos de roteiro. Estamos numa escola que tem como público alvo os adolescentes naquela fase de transição, uma das fases mais simbólicas da vida. Ter um professor de filosofia que fuja dos padrões mais tradicionais de ensino vai fazer toda a diferença em suas vidas.
The Good Place
Brilhante e criativamente, esta comédia tece críticas sobre o ser humano e o tão chamado sintoma social da “falsa bondade” das pessoas apenas para obter algum tipo de vantagem para si. Eleanor contamina o local com tanta negatividade que acaba desencadeando vários efeitos colaterais no Lugar Bom, cheio de tempestades, desastres climáticos que causam o caos nesse universo de tranqüilidade, descanso, paz e felicidade. Além disso, a protagonista distorce as intenções por trás das atitudes bondosas de seus vizinhos, obtém crédito pelo favor que os outros lhe prestam, reclama da falta de luxo de sua estadia, e precisa literalmente que alguém lhe ensine o que é “ética” e o que é “ser bom”. Em outras palavras, ambas são qualidades que não lhe vêm naturalmente ou de sua própria vontade.
Até porque “O Lugar Bom” define bem especificadamente o que é ser “bom”, já que independentemente de distinção de raça, cor, tamanho, idade ou gênero (um excelente acerto, por sinal) as pessoas daquele local são indivíduos que contribuíram efetivamente para o bem da humanidade com trabalhos voluntários, filantrópicos ou carreiras.
Black Mirror
Black Mirror
De todas as séries aqui provavelmente Black Mirror é a que trabalha mais intensamente questões como moral e ética. Em cada episódio há elementos suficientes para uma longa conversa sobre o tema. Para começar, uma das ferramentas que mais podemos associar atualmente, e será no futuro também, é a tecnologia. E trabalhar um futuro recheado de tecnologia é tarefa para Black Mirror.
A nossa vaidade, a busca por fama, por popularidade, por riquezas, por poder, todos estes desejos humanos vem fazendo a humanidade se perder e ai os conceitos de moral e de éticas são quase que esvaziados. Black Mirror é sensacional por conta disto, de mostrar uma possível tendência da humanidade, pois hoje já somos assim, hoje a vaidade é um elemento dos mais intricados na nossa mente e na nossa alma. E todos sabemos que vaidade e moral são termos que não se harmonizam tão fácil.
Lost
O caso de Lost é bem parecido com o de The Walking Dead: como construir um código moral e ético em um contexto onde não há Estado, não há sociedade organizada, onde estamos lá para garantir a sobrevivência. Séries como Lost nos trazem uma ótima reflexão: a ética só existe porque há uma ferramenta que puna quem não agir de acordo com ela?
Se vivêssemos num lugar livre (completamente), onde nenhuma de nossas ações seria passível de punição, será que seríamos bons?
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