Literatura

“Você é o que lê” reuniu Gregório Duvivier, Xico Sá e Maria Ribeiro em Salvador

Você é o que lê (Salvador/BA) – Crédito: Paula Andrade

O Cabine Cultural esteve presente ao evento, conversou com os 3 convidados e fez uma apanhado das principais falas

Por Pedro Del Mar

Maria Ribeiro, Gregório Duvivier e Xico Sá. Esse foi o time de peso que abriu a 1ª edição do “Você É O Que Lê”, evento realizado pela Livraria Cultura e Noarr Cultura e Conteúdo que debruçou-se sobre temáticas literárias.

Com estreia nacional realizada em Salvador na última terça-feira, 10/05, o evento ainda percorrerá outras 7 capitais do país (Recife, Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre), sempre propondo um diálogo sobre a influência da leitura na infância e na formação dos autores, até a construção dos seus últimos títulos, além de provocar a reflexão sobre os novos formatos consumidos nas redes sociais e novas mídias, colocando em questão os impactos dessa leitura na formação da sociedade contemporânea.

Na capital baiana, o evento foi gratuito e disponibilizou apenas 200 lugares para o público interessado. Apesar do baixo número de senhas disponíveis, devido à capacidade do teatro onde o evento se realizou, a procura do público foi bastante expressiva, tendo quase cinco mil (4.900) pessoas interessadas no evento no Facebook. Um forte indício do potencial da cidade e do expressivo entusiasmo dos soteropolitanos com eventos culturais, nem só de festas vive a cidade (ainda bem!).

Você é o que lê (Salvador/BA) – Crédito: Paula Andrade

Sob a mediação da jornalista e apresentadora de TV Pamela Lucciola, o evento foi dividido em 3 partes. Em um 1º momento, Gregório, Maria e Xico falaram sobre suas formações literárias, influências, seus modos de escrita e o que acham da atual produção literária nacional. Em seguida, falaram da relação entre a leitura/escrita e as redes sociais/novas mídias. Por fim, foi a vez do público realizar questionamentos aos convidados.

Para além das temáticas sobre leitura e escrita, que eram os focos do evento, não foi difícil imaginar que a atual crise política do país faria parte das falas dos convidados e até mesmo dos questionamentos do público. Partindo essencialmente de Xico Sá e Gregório Duvivier, já conhecidos por seus públicos e intensos posicionamentos políticos, várias referências ao processo de impeachment e seus atores foram feitas, quase sempre em tom de desagravo, expressadas constantemente pelo termo “golpe”. Apesar disso, não se verificou um ambiente de tensão e tampouco de hostilidade, características que têm marcado os atuais debates públicos no país. O respeito e o tom descontraído das falas e intervenções foram dominantes (ainda bem (2)!). Para além, temas como o machismo, empoderamento feminino, sexo, relacionamentos e o uso de maconha fizeram parte do divertido e enriquecedor bate papo entre os convidados e o público. Não por um acaso, muita gente saiu de lá com a sensação de quem saíra de uma mesa de bar após reunião com amigos.

O Cabine Cultural esteve presente ao evento, conversou com os 3 convidados e fez uma apanhado das principais falas, confira abaixo:

Falas de destaque:

*Xico Sá:
Sou, sobretudo, um leitor, só depois me identifico como um escritor”

“Não acho que temos uma crise da escrita no Brasil. A crise é de leitores, não de escritores”

“Ainda acho que o amor é a salvação, da literatura e da vida”

“Hoje, fazendo uma análise dos meus livros, vejo o quanto eu era machista e como eu fui desconstruindo isso ao longo dos últimos anos. Não há mais espaço para o machismo.”

Você é o que lê (Salvador/BA) – Crédito: Paula Andrade

*Maria Ribeiro:
“Não me achava capaz de realizar uma boa escrita. Hoje eu olho para meu livro e penso: “é, até que eu sou uma boa escritora”.

“Sou super viciada em redes sociais, especialmente Twitter e Instagram. Não tenho tanta paciência para o Facebook. Sou tão viciada que eu posto uma foto, com um ângulo que eu achei legal, e fico esperando ansiosamente pelos likes, se não vierem na quantidade que imagino, fico triste”

“As vezes eu vejo um textão no Instagram e tenho preguiça de ler, mas outros eu já leio. Acho que depende do formato e do tema. É uma coisa meio paradoxal, não sei se as pessoas têm preguiça de ler textão. Tenho um filho de 13 anos que também é viciado em redes sociais, especialmente em Snapchat, mas que leu “O Velho e o Mar” (Ernest Hemingway) em um único dia”

*Gregório Duvivier:
A gente deixou de se incomodar com filas. Antes víamos uma fila e pensávamos “que merda”, hoje a gente entra em fila até sem precisar, só pra ter uma desculpa para olhar mais o celular e as redes sociais enquanto espera na fila, isso é sintomático”

“Tenho amigos que dizem que hoje se sentem constrangidos em paquerar uma mulher. Acho esse constrangimento fundamental. Assim como eu não posso fazer xixi aqui no palco agora porque me sinto constrangido, o machismo tem que ser constrangido também, faz parte de um processo civilizatório, processo esse que o Brasil tá atrás de muitos países.”

“Eu escrevo meus textos e posto nas minhas redes sociais e colunas em jornais e saio correndo. Não gosto de ver a repercussão do público, seja ela positiva ou negativa. Acho, inclusive, que não deveria haver espaço para a opinião do leitor no mesmo lugar que o texto do autor. Não que o leitor não possa opinar, ele pode, mas em outro espaço.”

“Sou um cara que possui milhões de haters e isso me entristecia muito, sou muito sensível. Mas ai eu percebi uma coisa, eu só me importava com as críticas e xingamentos, porque eu também me importava com os elogios. Então para que essas coisas parassem de me afetar, eu parei de ler também os elogios, salvo alguns muito carinhosos e especiais.”

“A internet é como uma peça teatral onde o público não para de falar e os atores não conseguem prosseguir com o espetáculo por causa disso.”

Você é o que lê (Salvador/BA) – Crédito: Paula Andrade

– O que estão lendo:
*Gregório Duvivier:
“O Livro dos Bichos” – Roberto Kaz – Companhia das Letras
* Xico Sá: “Saturno nos Trópicos” – Moacyr Scliar – Companhia das Letras
*Maria Ribeiro: “1Q84” – Haruki Murakami – Alfaguara/Objetiva

 – Últimos livros escritos por eles:
*Maria Ribeiro: “
Trinta e oito e meio” – Língua Geral – 2014
*Xico Sá: “Os machões dançaram, crônicas de amor e sexo em tempos de homens vacilões” – Record – 2015
*Gregório Duvivier: “Percatempos: tudo o que faço quando não sei o que fazer” – Companhia das Letras – 2015.

+ Pedro Del Mar

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