Coluna da jornalista Camila Botto sobre tudo que acontece no mundo televisivo
Entrevista com Xico Sá
Conhecido por suas crônicas inconfundíveis e por ser muito bom de papo, Xico Sá é um dos destaques do Papo de Segunda, exibido nas noites de segunda no GNT. Além da atração, o escritor segue divulgando seu mais novo livro intitulado Os Machões Dançaram e estará em Salvador nesta sexta-feira (8) para participar do evento Flica da Caixa Cultural.
Em entrevista ao A Tarde, Xico fala sobre o programa do GNT, sobre sua relação com Salvador e o que o público pode esperar do evento literário de sexta e ainda avalia se a seleção brasileira tem salvação com a chegada de Tite.
Falamos com o Tas há pouco tempo e ele disse que a responsabilidade de vocês, depois de um ano de programa, só aumentou. Você também sente isso?
O Tas tem razão. A repercussão tem sido muito grande, muito maior do que eu esperava. Fiz muita de televisão, mas nunca com essa importância. Às vezes até me espanta o quanto as pessoas nos ouvem e levam a sério tudo que falamos. É um programa de muito prestígio, demos uma liga forte e rápida. Somos inteiramente diferentes um do outro, temos uma variedade de repertórios. Até a questão do regionalismo…o Tas é do interior de São Paulo, eu do interior do Nordeste, o Leo de Goiás, o João já morou no mundo todo…a gente acaba levando muito esses nossos lugares para o programa.
Você, pelo menos aparentemente, é o que mais se revela, o que não tem medo de escancarar sentimentos. Ali é o Xico Sá de verdade ou há um certo personagem?
Eu não tenho uma imagem a zelar como os outros (risos). Não tenho muita preocupação de não tocar em determinados assuntos. Eu sou o que mais rio de mim mesmo. É muito real, sou o que eu sou normalmente, não é um personagem. É o que já sou em mesa de bar, com os amigos. Apesar de fazer televisão há uns dez anos, é tudo novidade. Ainda é estranho, pois eu me sinto um cara de jornal. Não estou mais no dia a dia da redação, mas ainda me sinto nela e depois que você passa pela rotina intensa de um jornal, a televisão é só diversão (risos).
Você é admirado por uma série de fatores, mas seu trabalho ganhou maior reconhecimento com relacionamento e esportes. Entre estes dois mundos, consegue eleger algum predileto ou estou pedindo para você escolher entre filhos?
É uma coisa de momento. Agora tenho mais amor pelas crônicas mais líricas e amorosas. Talvez seja um pouco de desilusão com o futebol do Brasil. Eu mal sabia o que era uma mulher na vida e já fazia isto num programa de rádio em Juazeiro do Norte chamado Temas de Amor. Era um programa de aconselhamento e músicas românticas e fui chamado para ajudar na redação. E eu com uns 15 anos e me salvava porque eu lia muito. Que diabo que eu sabia de mulher? (risos). Continuo sem saber o que querem as mulheres, mas ali eu não tinha condição de dar um ‘bom dia’ para uma mulher.
Seu mais recente livro Os Machões Dançaram prega que o macho jurubeba está em extinção. Explica mais sobre isso.
Felizmente está acabando. O macho jurubeba é um pouco da minha formação, dessa cultura machista. É inspirado um pouco no meu pai, nos meus tios, numa geração mais velha. Deve ter uns quatro por aí (risos). Embora a cultura disso ainda não está em extinção, infelizmente. O livro faz essa denúncia de que esse tipo de homem não tem mais espaço. Com o avanço mais do que legítimo das mulheres, o macho jurubeba ficou obsoleto, se perdeu nessa história, vive essa desorientação.
Apesar disso, ainda temos uma sociedade muito machista…
Exatamente. Basta ver o noticiário de estupro, de violência, ainda tem essa cultura que deveria ter ido para o espaço há séculos.
Xico Sá – Crédito Márcia Alves
Você está vindo para Salvador participar de um evento da Flica nesta sexta-feira. Queria saber um pouco mais sobre esta participação.
Tenho uma ligação muito forte com Salvador, lugar onde tenho muitos amigos. Sou apaixonado pela literatura baiana. Tive a sorte de conviver um pouco com João Ubaldo Ribeiro, queria tomar umas com ele e consegui. Toda a safadeza da obra de Jorge Amado me influenciou muito nesta minha crônica mais erótica. Além disso, já tive vários amores nesta cidade. Quanto a Flica, vou como um autor que já participou de outras edições da festa e será um papo livre com Reinaldo Moraes, um cara de que sou fã total. Acabamos que vamos falar de uma literatura mais sacana, que beira o erótico, o pornográfico.
Além do Papo de Segunda, algum novo projeto para este segundo semestre?
Tem um livro novo que está por vir reunindo minhas melhores crônicas esportivas chamado A Pátria em Sandálias da Humildade. O nome é uma brincadeira com Nelson Rodrigues, que tinha o livro A Pátria em Chuteiras. É uma brincadeira por conta deste momento que vive a seleção brasileira. Além das crônicas, tem um capítulo inédito que chama Na Noite com o Dr. Sócrates, que é um relato da nossa convivência, principalmente na noite de São Paulo. Tem também o filme Big Jato, baseado no meu romance. Vou dar uma rodada boa com ele em festivais internacionais.
E aproveitando o gancho esportivo, o que falar da seleção brasileira? Há esperança de nos reerguer com a contratação do Tite?
A chegada dele demorou, mas não é o bastante. Ou muda a cúpula da CBF ou não tem salvação. O Tite é muito competente, é um grande cara. Civilizado, legal, bom papo. Não tem aquela teimosia do Dunga. Ele escuta, é estudioso. Mas fica faltando uma mudança na cúpula da CBF para a gente começar a pensar em ter um futebol melhor.
Formada em jornalismo com pós-graduação em mídias digitais, Camila Botto é colunista do Cabine Cultural, editora-chefe do Feminino e Além, autora do livro Segredos Confessáveis e sócia da Dendê Cult Press.