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XV Festival Nacional 5 Minutos – Saldo Final

Festival Nacional 5 Minutos

Dias após o final de mais uma edição do FestivalNacional 5 Minutos, chega o momento de avaliar a estrutura oferecida pela organização e o conteúdo (mostras, encontros, oficinas, exposição, lanrrauzze)proporcionado pela mesma. Resumindo, entre os dias 15 e 20 de outubro, Salvador e outras 11 cidades baianas acolheram atividades totalmente gratuitas integrantes do mais importante evento produzido pelo Governo do Estado da Bahia no campo do audiovisual. Tivemos: MostradeAbertura MattyBrown, MostraCompetitiva, Mostra Panorama Nacional, Mostra 5 Minutinhos, ColeçãoEspecialde 10 AnosdaMostradeCinemaInfantildeFlorianópolise outros.

Sobre a Mostra de Abertura

Sobre o Programa Um

ESTRUTURA
Esta edição mais uma vez aconteceu – sobretudo – na Sala Walter da Silveira, mas com eventos sediados também nas outras salas da DIMAS e na Biblioteca Pública do Estado. O Quadrilátero da Biblioteca foi utilizado como palco dos interessantes debates diários. O espaço físico do evento conseguiu abrigar sem problemas as atividades realizadas e por isso acredito que ainda não chegou o momento de pensar na ampliação da estrutura do festival. A Sala Walter da Silveira – mesmo carecendo de um projetor mais robusto – conseguiu sediar bem todas as mostras e viu seu espaço quase sempre preenchido por muitas pessoas, o que elevou e muito a análise final de todos os envolvidos. A organização utilizou grande parte de seu quadro de funcionários e assim o que mais se viu durante os dias do evento foram pessoas com a camisa da organização do festival. Isso deve ter agradado o público presente, pois é sempre bom ter alguém logo à frente para tirar dúvidas ou ajudar em alguma questão. Mesmo sabendo que nem todos ali estavam realmente cientes da natureza do festival, este fato é digno de elogios, sendo uma agradável surpresa observar todos vestindo ‘literalmente’ a camisa do evento.

ATIVIDADES
Além das mostras, o que mais chamou atenção nesta edição foi a qualidade das oficinas oferecidas. A organização conseguiu trazer para Salvador o curador alemão Olaf Stüber, que ministrou oficina sobre videoarte. E apesar da oficina ter acontecido em outro local, o alemão esteve presente em muitos dos momentos do festival, tornando-se figura comum na plateia, o que é muito bom. Além dele há de se destacar a presença da talentosa diretora de arte Vera Hamburger, que ministrou oficina sobre direção de arte. Vera é grande referência da área e seus trabalhos nos filmes Ó paí Ó, Não Por Acaso e O Passado são merecedores de elogios. Outro destaque ficou por conta do preparador de elencos Christian Duurvoort, que ministrou oficina de direção de atores e interpretação cinematográfica. Seu trabalho mais conhecido foi Ensaio sobre a Cegueira, filme do brasileiro Fernando Meirelles. Christian fez esta preparação de elenco, num dos trabalhos mais interessantes do cinema nestas últimas décadas, pois não deve ter sido nenhum pouco fácil transpor o universo de José Saramago para as telas.

Os encontros promovidos no Quadrilátero proporcionaram ótimas conversas. A cada dia um tema era posto na berlinda e diversos convidados (todos relevantes) debatiam sobre. Logo no primeiro foi debatido o tema Difusão na Web e seus convidados (Carolina Vianna e Guilherme Whitaker) esclareceram muitas questões. Carolina trouxe mais a perspectiva da web enquanto negócio, já que ela trabalha em grande empresa de conteúdo audiovisual. Seu discurso foi no intuito de afirmar que há espaço na web para bons videomakers e que eles podem sim produzir material e conseguir exibição em um grande portal, como o Sunday TV. Já Guilherme – que merece todos os elogios somente por ter criado tempos atrás o site Curta o Curta, um dos mais interessantes e tradicionais do Brasil em termos de difusão de curtas metragens – trouxe um discurso voltado para o trabalho de difusão do formato na web. Nos dias seguintes os temas videoarte e intercâmbio de documentários trouxeram convidados internacionais, tais como Matty Brown e Olaf Stüber. Por fim, no mais importante dos encontros, foi discutido o próprio festival enquanto atividade cultural. Foi bastante produtivo ouvir as palavras de Sofia Federico, Carollini Assis, João Pedro Fleck, dentre outros. João Pedro foi o ombudsman desta edição do evento e talvez por isso fosse também o discurso mais esperado da noite. Ele tocou no fato do festival não ser muito conhecido Brasil afora e por isso mesmo carecer de uma divulgação mais grandiosa do evento. Não deixa de estar certo, mas há de se mencionar que a grande maioria dos festivais de curtas-metragens no Brasil cumpre somente papel regional. O próprio Fantaspoa, festival gaúcho do qual ele é curador, é bem desconhecido do público de fora da região sul. Isso é normal e no caso do 5 Minutos tem o adicional fato de ser promovido pelo Governo do Estado da Bahia e um dos grandes objetivos é (compreensivelmente) estimular o audiovisual na esfera regional. E isto ele vem fazendo com certo sucesso, vide Pola Ribeiro, Daniel Lisboa e outros tantos bons cineastas baianos que iniciaram seus trabalhos no Festival 5 Minutos. No entanto há de se esperar que muito em breve a marca vire referência nacional, pois sua premiação e suas peculiaridades já lhe dão este direito. A tendência claramente é esta.

VÍDEOS
A qualidade dos trabalhos desta edição seguem uma tendência nacional: tecnicamente cada vez melhores – a facilidade de trabalhar com bons equipamentos oferece este fato como consequência – e certa estagnação em termos de criatividade e de desenvolvimento narrativo. Ótimos trabalhos foram exibidos nesta edição, incluindo ai o grande vencedor (A Melhor Idade, de Adriano Big), o interessante Pequeno, de Ernesto Molinero, o ousado Como Num Passe de Claves, de Emerson Dias e outros que foram destaques por terem sido muito bem executados: 100 Sonho, de Amanda Graciolo, O Reino do Chocolate, de Rafael Jardim, Noia, de Rafael Villanueva e Festa no Apartamento de Suzana, do sempre criativo Christopher Faust.

SALDO FINAL

15 (ou 16) anos após sua primeira edição o agora Festival Nacional 5 Minutos mostra-se ainda uma adolescente, que como tal, está passando por uma aparente (e positiva) crise de identidade. Esta edição foi certamente a mais plural de todas, com diversas temáticas sendo destacadas e inúmeras atividades sendo oferecidas. Este enorme balaio por um lado mostra esta ideia que está no subtítulo desta edição (infinitos caminhos), mas por outro se apresenta de modo confuso para quem trabalha na área de audiovisual. É comum percebermos logo de cara qual elemento é central neste ou naquele evento. As curadorias sempre deixam isso bem claro. O Festival 5 Minutos por ter somente a restrição temporal (apresenta um pouco de tudo e de tudo um pouco na sua programação) acaba confundindo o espectador. Resta saber se esta estrutura continuará sendo produtiva, pois colocar no mesmo grupo documentários, ficção, animações, videoclipes… é tarefa das mais árduas. Fora esta questão, que acredito estar sendo discutida pela organização, o festival nesta edição se apresentou rejuvenescido e com bem mais energia que a edição passada. Isso se deu em grande parte pela co-produção do evento (inexistente em 2011), que este ano ficou com a empresa Lima Comunicação. Foi realizado um trabalho bem intenso de divulgação midiática, que culminou na vinda de equipes do eixo sul-sudeste para cobrir o evento baiano. Bom para todos. Cabe destacar por último o belíssimo trabalho da diretora da DIMAS (e cineasta) Sofia Federico, que durante os dias de evento esteve em praticamente todas as atividades oferecidas, mostrando-se uma verdadeira anfitriã. Muito bacana observar alguém que realmente se importa tomando conta de um evento tão relevante para o audiovisual baiano. Até 2013!

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